sábado, 7 de abril de 2012

Por Jesus, mas com o irmão

A vivência comum é um dos grandes desafios da sociedade moderna, e isso não somente na vida de Igreja. As empresas buscam profissionais que saibam trabalhar em equipe e as famílias lutam para manterem-se unidas, porém a tendência tem sido contrária: desde a infância já não se vê muitas brincadeiras em grupo pelas ruas, pois os jogos do advento tecnológico são para um número reduzido e limitado, geralmente dentro de casa à frente de televisor ou monitor; os antigos grupos de estudo, marcados fora do horário escolar, nas bibliotecas ou nas casas de amigos também já não são mais necessários, pois a internet facilitou a forma de se fazer trabalhos e pesquisas; as redes sociais até fomentam muitas conversas, mas a convivência de amigos no portão de casa, nos banquinhos das ruas ou nas calçadas está em extinção. Nem mesmo a movimentada vida noturna que se vê nos dias de hoje pode ajudar neste sentido, pois o som alto das baladas não propicia conversas do tipo confidências, é um tipo de diversão com dispersão. Pais e filhos às vezes têm dificuldade de se encontrar, os horários não coincidem, trânsito, trabalho, faculdade, cursos etc. A rotina moderna nos ajuda a ser individualistas!
Tudo isso vai condicionando nosso comportamento de tal forma que não raro adotamos a mesma filosofia dentro da vida de Igreja: cada um por si e Deus por todos. A Palavra de Deus nos traz um modelo a ser seguido que contrasta com esta realidade: Atos 2, 42-47. “Perseverantes e bem unidos, freqüentavam diariamente o templo...” (vers. 46 a) Este versículo nos questiona. Por que freqüentar diariamente o templo? E por que bem unidos se posso fazer minhas orações ou trabalhos sozinho? Independente do ministério, ninguém vive nem trabalha só, nem o faz para si mesmo apenas. Sempre haverá a necessidade de convivência e quando esta não é sadia a unidade não acontece e o serviço perde sua força de produzir frutos porque nosso trabalho tem antes de tudo um sentido místico. Se não o fosse, seríamos profissionais contratados e remunerados, como já se vê em algumas igrejas como em Santiago, no Chile. A própria Igreja teria menos trabalho e problemas de pessoal porque a atividade voluntária requer paciência e controle por parte de quem a promove.
Mas Deus nos chama a uma entrega gratuita com e pelo irmão. Para isso, fomos capacitados com “a graça, conforme a medida do dom de Cristo” (Efe 4, 7). Essa proposta de Deus se contrapõe radicalmente ao individualismo que dominou nossa sociedade e contaminou nossas famílias e relacionamentos de forma geral.
Um servo de Deus deve ser capaz de viver em comunidade de forma harmônica, de lidar com as diferenças, as limitações suas e dos irmãos, de saber perdoar e resolver conflitos. Não é normal que em meio a pessoas tão diferentes nunca surja um impasse, uma discussão ou até mesmo uma briga. A ausência disso pode ser um sinal de indiferença, mentira, falsidade ou omissão. É necessário ter maturidade para ouvir a correção, meditá-la, corrigir-se, voltar atrás. Pirraça é atitude infantil: “não seremos mais como crianças, entregues ao sabor das ondas...” (Efe 4, 14).
        Se isso nos incomoda, é hora de projetar um olhar diferente para o irmão com o qual não tenho prazer de servir. Quem sabe ao conviver mais com o irmão diferente não descobriremos o quanto ele é semelhante? Aí entenderemos que o rejeitávamos justamente porque não aceitávamos nosso próprio eu limitado. Nem sempre é fácil encarar o que o espelho nos mostra...


Por Érica Scaramussa
Membro de Aliança da Comunidade Vida Nova

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