quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Biblioteca dos Papas disponibiliza documentos online


O Vaticano colocou à disposição dos internautas nesta quarta-feira, os primeiros 256 manuscritos da Biblioteca dos Papas, graças a um projeto que pretende facilitar o acesso a mais de 80 mil documentos através da rede, informou o jornal “Corriere della Será”.

Os códigos, de enorme valor, estavam na Biblioteca Vaticana, protegidos por rígidas medidas de segurança e de conservação, podendo ser consultados apenas por 250 especialistas qualificados a cada dia. Com este projeto, as páginas destes documentos – digitalizados com tecnologia da NASA e organizados num banco de dados -, poderão ser visualizadas por qualquer pessoa.

Para a sua digitalização foi empregada a tecnologia FITS (Sistema de Transporte Flexível de Imagens), desenvolvida pela NASA há 40 anos, para conservar imagens de suas missões espaciais. O serviço foi contratado em outubro de 2011, para evitar a deterioração dos manuscritos devido às prolongadas consultas por parte dos especialistas.

O projeto começou a mostrar seus resultados nesta quarta-feira, 30, através do acordo entre a Biblioteca Vaticana e a Biblioteca Boldleian de Oxford, que em abril de 2012 estabeleceu a disponibilização de seus textos na internet para consultas gratuitas.

Os textos incluem obras de Homero, Platão, Sófocles, Hipócrates, alguns dos manuscritos judeus mais antigos conservados, além dos primeiros livros italianos impressos durante o Renascimento.

A Biblioteca dos Papas foi criada em 1450 pelo Papa Nicolau V, nos fundos de sua biblioteca pessoal. Posteriormente ela foi dotada de um estatuto jurídico. Entre suas preciosidades encontra-se o ‘Codex Vaticanus’, o primeiro testemunho em grego da Bíblia de que se tem notícias.

Por Rádio Vaticano

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Crer que Deus é Pai é um ato de fé e conversão, diz Bento XVI


 
"Deus é um Pai que não abandona nunca os seus filhos, um Pai amoroso que sustenta, ajuda, acolhe, perdoa, salva....", disse o Papa
O Papa Bento XVI prosseguiu nesta quarta-feira, 30, as reflexões sobre o “Credo” – profissão da fé católica, como tem feito desde a semana passada, quando falou sobre “Eu creio em Deus”.

Nesta segunda reflexão, o Santo Padre concentrou os ensinamentos em torno da primeira definição de Deus que o Credo apresenta: Ele é Pai. Bento XVI ressaltou que quando a paternidade de Deus é professada, deposita-se a  fé no poder do seu amor que no seu Filho morto e ressuscitado derrota o ódio, o mal, o pecado e abre a vida eterna aos que creem.

“Dizer ‘Eu creio em Deus Pai onipotente’, no seu poder, no seu modo de ser Pai, é sempre um ato de fé, de conversão, de transformação do nosso pensamento, de todo o nosso afeto, de todo o nosso modo de viver”, explicou o Pontífice.

O Papa disse que o reconhecimento de Deus como Pai é uma tarefa dificultada pelo estilo de vida ocorrente principalmente no mundo ocidental.
Segundo Bento XVI, a vida familiar passa por diversas intervenções como os compromissos de trabalho mais exigentes, as preocupações, a dificuldade de enquadrar as contas familiares e a invasão dos meios de comunicação de massa na vida cotidiana.

Com isso as referências de paternidade acabam ficando prejudicadas, diz o Papa. “Para quem teve a experiência de um pai demasiado autoritário e inflexível, ou indiferente e pouco afetuoso, ou até mesmo ausente, não é fácil pensar com serenidade em Deus como Pai e abandonar-se a Ele com confiança”.

No entanto, o Santo Padre acredita que nos Evangelhos, a figura de Deus como Pai é construída, especialmente no Mistério Pascal de Cristo Jesus. O Papa citou alguns exemplos bíblicos que reforçam a imagem amorosa e paterna de Deus. A partir deles, é possível afirmar: “Deus é um Pai que não abandona nunca os seus filhos, um Pai amoroso que sustenta, ajuda, acolhe, perdoa, salva, com uma fidelidade que supera imensamente a dos homens, para abrir-se a uma dimensão da eternidade.”

O Papa ressaltou que é necessário entender que o pensamento de Deus é diferente do pensamento humano. Suas vias diferentes e sua onipotência são diferente: não se exprime como força automática ou arbitrária, mas é marcada por uma liberdade amorosa e paterna.

Ao concluir a reflexão, o Santo Padre rezou pedindo a Deus que conceda a todos a graça do dom da filiação, “para viver em plenitude a realidade do Credo, no abandono confiante ao amor do Pai e à sua misericordiosa onipotência que é a verdadeira onipotência e salvação.”

Fonte: Radio Vaticano

Cardeal Odilo reflete sobre tragédia em Santa Maria

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo


 
"A tragédia de Santa Maria nos motiva a voltarmos nossa atenção com maior empenho para os jovens"
Juventude: onde andam os jovens?

Enquanto escrevo este artigo, continuam a chegar notícias e imagens da terrível tragédia ocorrida em Santa Maria (RS), na madrugada desse domingo, 27. Mais de 230 mortos confirmados no incêndio da casa noturna. A maioria, jovens estudantes. Santa Maria é uma cidade universitária, com estudantes de todo o Brasil. Muita consternação.

Sofrimento e tristeza imensas abateram-se, de repente, sobre inúmeras famílias, que punham tantas esperanças nos seus filhos jovens, cheios de vida e de ideais. A dor é compartilhada pelo Brasil inteiro; de todos os lados, chegam mensagens de solidariedade, de autoridades políticas, lideranças comunitárias e pessoas comuns do povo: todos gostariam de se manifestar, de fazer algo, de dizer uma palavra de conforto às mães desesperadas diante dos corpos estendidos no chão do ginásio de esportes, para serem reconhecidos e identificados... À distância, nos colocamos em oração silenciosa, a pedir a Deus o conforto pelos que sofrem e a vida eterna para os que a perderam tão precoce e tragicamente para este mundo.

Vida e morte se encontraram numa circunstância inusitada, enquanto os jovens festejavam e se alegravam... Da diversão ao luto, em poucos minutos! Como é possível que aconteçam tragédias semelhantes? As responsabilidades ainda devem ser apuradas, mas tomam sobre si enormes encargos pela segurança, a integridade física e a vida de outras pessoas, aqueles que mantêm semelhantes locais de agregação de massas humanas, sejam os fins que forem; as medidas emergenciais de segurança estavam todas asseguradas e checadas? Espetáculos com elementos de risco estavam autorizados? Os locais estavam devidamente vistoriados e liberados pelas autoridades competentes? Estavam habilitados e treinados aqueles que deviam zelar pela segurança?

Após a tragédia, passado o silêncio respeitoso pelos mortos e aos muitos feridos e enlutados, resta fazer uma reflexão em vários setores: quanto vale a vida humana? Ela pode ser moeda de troca em função de ganhos e lucros? Cada vida humana é única e preciosa, não podendo ser exposta ao perigo, de maneira leviana; mais ainda, quando se pretendem maiores ganhos, com menores despesas em segurança. Semelhantes tragédias, igualmente em casas noturnas de diversão, têm acontecido em outros países também. Não estaria na hora de haver maior vigilância sobre a segurança de tais locais?

Para o Brasil, o motivo de tristeza ainda é maior, justamente neste ano, quando acontecerá a Jornada Mundial da Juventude, em julho, no Rio de Janeiro. Há poucas semanas, a cruz da Jornada da Juventude peregrinou por Santa Maria, com a acolhida e a participação entusiasta de milhares de jovens. Talvez, muitos dos que perderam a vida no incêndio estiveram também entre eles... E a juventude é tema da Campanha da Fraternidade, que será aberta na próxima Quaresma: “Juventude e Fraternidade”.

A tragédia de Santa Maria nos motiva a voltarmos nossa atenção com maior empenho para os jovens: que não lhes falte a presença, o estímulo e o bom exemplo dos adultos nas escolhas que devem fazer para a vida; que tenham oportunidades para se preparar bem para assumirem seu lugar na sociedade e seu rumo na vida; que não sejam abandonados, de maneira resignada, aos ideólogos do vazio e da desorientação antropológica e moral, ou aos que investem pesado neles para explorar suas energias jovens e sua vontade de viver em função de manobras ideológicas ou ganhos econômicos, conduzindo-os para os becos sem saída da droga, da corrupção moral e social. Que não recebam apenas propostas vazias e nihilistas para suas vidas, mas orientações e indicações sólidas para a construção de seu futuro.

No Brasil, nós temos neste ano uma chance de ouro para nos dirigirmos aos jovens. São eles que terão nas mãos a responsabilidade pela vida social, logo mais, daqui a poucos anos. E da vida da Igreja também. A Campanha da Fraternidade está às portas e a Jornada Mundial da Juventude já está mobilizando muitas energias jovens pelo Brasil todo. Como faremos para envolver a maioria absoluta dos jovens, que ainda não são alcançados pelas nossas propostas pastorais, nem nossas homilias dominicais, mas que se encontram, aos milhões, nas escolas e universidades e nas casas de diversão, sábados à noite?

O uso DESORDENADO da tecnologia pode estimular seu uso como muleta digital


Tem sido muito comentada a espantosa decadência do ensino nas escolas, fruto de fatores 

Diante dessa situação calamitosa, alguns têm proposto como remédio, ou ao menos como paliativo, que se proceda a uma crescente inserção de recursos da informática entre os alunos.

Computadores, celulares, smartphones, ipods, tablets e não sei mais o quê, facilitariam a concentração nos trabalhos escolares, ademais de permitir uma pesquisa rápida e eficiente nas redes sociais, como facebook, twitter e outras do gênero. Ledo engano!

Bipes, vibrações, luzes… adeus à atenção

Pesquisa do Pew Internet & American Life Project entrevistou 2.462 professores dos ensinos fundamental e médio nos EUA e concluiu que “a vasta maioria concorda que as atuais tecnologias estão criando uma geração que se distrai com facilidade e só consegue se concentrar por breves intervalos de tempo”.

Elas contribuem mais para distrair os alunos do que para o seu desempenho escolar (Larry Rosen, “Geração desconcentrada”, “O Estado de S. Paulo”, “Link” (Suplemento de Informática), 19-11-12.
Comentando a pesquisa, Larry Rosen, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, diz:

“Recentemente, minha equipe de pesquisa observou 263 alunos dos ensinos médio e superior estudando em casa por 15 minutos. A cada minuto, anotávamos o que eles faziam: se estavam estudando, trocando mensagens de celular, se havia um som ou uma TV ligados, se estavam diante de um PC e quais sites visitavam. Verificamos que eles só conseguiam se dedicar às tarefas por períodos de três a cinco minutos, em média, antes de perder a concentração. De maneira geral, a distração era causada pela tecnologia, incluindo: (1) a presença de dispositivos, como iPods, laptops e smartphones, no local de estudo; (2) as trocas de mensagens de texto; (3) os acessos ao Facebook.

“Os alunos que entravam no Facebook uma vez durante os 15 minutos tinham notas mais baixas. Isso significa que as mídias sociais afetam negativamente a concentração e a atenção temporárias, e também o desempenho escolar.

“Pesquisados milhares de estudantes, eles disseram que, alertados por um bipe, uma vibração, uma luz piscando, eles se sentem compelidos a responder a esse estímulo.

“Disseram que são perturbados por pensamentos como: ‘Será que alguém comentou o post que deixei no Facebook?’. Ou: ‘Será que o meu amigo respondeu ao SMS que mandei há cinco minutos?’.

“Três quartos dos adolescentes e jovens checam os dispositivos a cada 15 minutos ou menos, e, quando não podem fazê-lo, ficam extremamente ansiosos. E a ansiedade inibe a aprendizagem”.

Nudez, solidão, perda do controle

Uma outra pesquisa, intitulada “Nós, jovens brasileiros”, feita pelo Portal Educacional, mapeou o comportamento de quatro mil estudantes brasileiros de 13 a 17 anos, de 60 escolas particulares de todo o País (“O Estado de S. Paulo”, 2-12-12).

“Um dos dados mais preocupantes é que 6% deles já apareceram nus ou seminus em fotos na rede e o mesmo porcentual já mostrou partes íntimas de seu corpo para desconhecidos por meio de webcam. Outros 3% já pensaram em se exibir dessa forma”.

Maria Rita Nunes, 15 anos, permanece “cerca de seis horas diárias em frente ao computador de casa, sem contar as espiadas na internet do celular durante o intervalo das aulas no Colégio Santa Maria. Não raro, ela troca o tempo do sono da madrugada para assistir algum vídeo publicado por algum amigo ou para postar no Twitter”.

Caio Cardoso Fossati, 15 anos, “conta que um de seus amigos recebeu de uma paquera uma foto dela nua. Achava que era uma forma de atraí-lo, mas o assunto virou piada entre amigos”.

Ivanna Castelli, 13 anos, estudante do 8.º ano do ensino fundamental, diz que várias de suas amigas se expuseram dessa forma. “Algumas queriam aparecer e outras atenderam ao pedido do namorado. O problema é que isso sempre espalha, e elas acabam se arrependendo”.
Para Carmen Neme, professora do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), “a questão é que os adolescentes estão sozinhos. Nunca se viveu de maneira tão solitária como agora. Os pais estão longe, e a internet parece suprir a ausência”.

Conta Cesar Marconi, diretor do Colégio Mary: “Tem aluno que chega morrendo de sono, não consegue se concentrar e, ao ser questionado, diz que não dormiu porque ficou na internet a noite toda. Ao serem convocados, diz Marconi, oito em cada dez pais dizem conhecer essa rotina. Mas admitem que não conseguem mais controlar”.

Uma outra pesquisa divulgada pela Fundação Telefônica — o estudo mapeou o comportamento de crianças e jovens frente às telas de computador, celular e televisão — “mostrou que 58,6% das crianças e 76,5% dos jovens acessam a rede sozinhos. O computador, revelou a pesquisa, se localiza preferencialmente no quarto da criança (37,6%) ou do adolescente (39,3%). Quanto à orientação, 31,7% dos jovens declararam que seus pais não costumam fazer nada em relação às atividades que desenvolvem na internet”.

Solução certa e admirável

Não passa de perniciosa ilusão a ideia de que o mundo moderno poderá trazer respostas “mágicas” para os problemas que ele mesmo criou. Elas só agravam a situação.

É claro que um certo número de jovens utiliza bem esses recursos, não só para enriquecer seus conhecimentos, mas também para a luta contra os males do mundo revolucionário, combatendo o aborto, o laicismo e outras chagas contemporâneas. Merecem aplauso e apoio. Mas eles constituem minoria.

A solução para uma juventude estropiada pelos desvarios modernos não está em oferecer-lhe muletas digitais.

Os males de que padecem os jovens lhes vêm de uma sociedade toda ela gangrenada pela falta de princípios sãos, que colocou o prazer da vida como meta da existência.

Em outras palavras, sem uma reforma dos costumes segundo os parâmetros da moral cristã católica não se voltará, na sociedade globalmente considerada, à sanidade mental e psicológica de outrora.
O leitor perguntará: uma reforma moral ainda é possível, ou não passa de quimera bem intencionada? Se detivermos nosso olhar nos acanhados limites traçados pelas forças meramente humanas, de fato não se vê solução no horizonte.

Mas se sondarmos o Coração Imaculado de Maria – que chora pelos nossos desvarios com o desejo imenso de remediá-los – tudo é possível obter.

Desde que tenhamos plena confiança na ação poderosa de suas lágrimas e estejamos dispostos a tudo sofrer, segundo o panorama traçado por Ela mesma em Fátima. Tal é a solução certa e admirável.

Fonte: Blog Carmadelio - Comunidade Shalom

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Bento XVI aborda aspectos sobre a relação entre fé e matrimônio


O Papa Bento XVI recebeu na Sala Clementina, neste sábado, 26, os membros do Tribunal da Rota Romana, para a inauguração do ano judiciário. Em seu discurso, o Santo Padre refletiu, de modo particular, sobre alguns aspectos da relação entre fé e matrimônio, observando que a crise de fé presente atualmente em vários lugares do mundo traz consigo um crise da união conjugal, que recai também sobre os filhos.

O Pontífice recordou o Código Canônico, que designa a realidade natural do matrimônio, como um pacto irrevogável entre um homem e uma mulher. Ele ressaltou que essa relação entre fé e matrimônio adquire um significado ainda mais profundo no plano teológico. "O vínculo matrimonial, de fato, embora realidade natural, entre os batizados foi elevado por Cristo à dignidade de Sacramento”.

E a fé, segundo o Santo Padre, é muito importante em uma união matrimonial cristã. Ele destacou que a fé  “é importante na realização do autêntico bem conjugal, que consiste simplesmente no querer sempre o bem do outro”. Além disso, ela faz crescer e frutificar o amor dos esposos, dando espaço à presença do Deus Trinitário.

Referindo-se ao pronunciamento do beato João Paulo II ao mesmo tribunal, há 10 anos, Bento XVI lembrou que uma atitude do noivos que não leva em consideração a dimensão sobrenatural do casamento pode torná-lo inválido somente se isso afeta a validade no plano natural no qual é colocado o mesmo sinal sacramental.

Segundo o Papa, a cultura contemporânea, marcada por um acentuado subjetivismo e relativismo ético e religioso, coloca a pessoa e a família diante de prementes desafios. "Em primeiro lugar em relação à capacidade de um ser humano de unir-se, e se é possível que essa união dure toda uma vida e se isto corresponde realmente à natureza humana, ou mesmo, se esta união não estaria em contraste com a liberdade humana e com a sua auto-realização. Isto faz parte de uma mentalidade muito difundida de que a pessoa se torna ela mesmo, permanecendo autônoma e entrando com contato com o outro somente através de relações que podem ser interrompidas a qualquer momento”, advertiu.

O Santo Padre destacou ainda que somente abrindo-se à verdade de Deus é possível compreender e realizar, na vida conjugal e familiar, a verdade do homem como filho, regenerado pelo Batismo. A recusa a esta proposta divina, segundo enfatizou o Papa, leva a um desequilíbrio em todas as relações humanas, a uma falsa compreensão da liberdade e da auto-realização.

Usando o exemplo dos santos que viveram a união matrimonial e familiar numa perspectiva cristã, Bento XVI recordou que eles conseguiram superar as situações mais adversas, alcançando, muitas vezes, a santificação do cônjuge e dos filhos com um amor sempre mais reforçado por uma sólida confiança em Deus, de uma sincera piedade religiosa e de uma intensa vida sacramental.

Concluindo seu discurso aos juízes da Rota Romana, o Pontífice afirmou que, com suas considerações, ele não pretendeu sugerir um fácil automatismo entre carência de fé e nulidade da união matrimonial. Antes, o objetivo foi "individuar como tal carência possa, embora não necessariamente, ferir também os bens do matrimônio, a partir do momento que a referência à ordem natural desejada por Deus seja inerente ao pacto conjugal”.

Fonte: Canção Nova

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tragédia de Santa Maria/RS - Nota de Solidariedade


Eu sei que meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó” (Jó 19,25)
 
Nossos corações estão abalados com a morte de inúmeros jovens estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, RS, e outras pessoas que estavam no local. A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Coordenação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio 2013 e o Regional Leste 1 da CNBB rezam pelos falecidos, como pelos hospitalizados e os que estão trabalhando com afinco para minorar a dor de todos, como também pelo consolo dos amigos e familiares das vítimas. 

Em solidariedade ao acontecimento trágico, transformamos um evento para jovens programado para este domingo a tarde em momento de oração e sufrágio pelas almas dos jovens e outras pessoas falecidas, com caminhada e missa saindo às 15 horas da Igreja da Candelária até a Catedral Metropolitana, onde será celebrada missa às 16 horas com transmissão ao vivo para todo o Brasil pela Rede Vida de Televisão. Pedimos a todos os párocos que nas missas de hoje à noite também rezem por essa intenção. 

Sentimo-nos como preparadores da Jornada Mundial da Juventude, evento que reunirá jovens de todo o mundo, tristes por esses jovens e outras pessoas que foram ceifadas de forma trágica da vida. Esperamos que o Senhor Ressuscitado, vencedor da morte, possa ser o consolo e a esperança neste momento de sofrimento e dor.

Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2013
Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro
Presidente do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ Rio 2013
Presidente do Regional Leste 1 da CNBB, bispos auxiliares e eméritos da arquidiocese do RJ

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Local da Vigília e Missa Final de Bento XVI na JMJ Rio 2013 tem nome: “Campus Fidei”

Na última quarta-feira, 23, a delegação do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ Rio 2013, juntamente com os representantes do governo brasileiro, estiveram reunidos com o Santo Padre Bento XVI, com os membros do Pontifício Conselho para os Leigos e a pessoa responsável pelas viagens papais.
orani_papa_campusfidei.jpg
Durante o encontro, que ocorreu após a Audiência Geral no Vaticano, Dom Orani João Tempesta, Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro e presidente do COL, apresentou ao Papa a proposta de que o local da Vigília e Missa de Envio da Jornada Mundial da Juventude, em Guaratiba, seja batizado com o nome "Campus Fidei", que em latim quer dizer "Campo da Fé".
Em entrevista à Rádio Vaticano, Dom Orani explicou que o objetivo é dar um nome único ao local durante a JMJ, pois "é um lugar que tem vários nomes porque são vários terrenos. Então, a partir de agora, a vigília e a missa final será em 'Campus Fidei', em Guaratiba".
Guaratiba.jpg
O Arcebispo do Rio de Janeiro contou um pouco do que foi decidido no encontro. "Houve a confirmação de quase tudo que já tínhamos preparado sobre a questão de alimentação, segurança, liturgia e comunicação. Afinamos um pouco as ideias para estarmos juntos e nos preocuparmos juntos também, além de escutarmos as várias experiências tanto do Pontifício Conselho para os Leigos quanto dos demais órgãos do Vaticano, que nos ajudaram a repensar vários aspectos. Agora, vamos colocar em prática tudo aquilo que decidimos. De maneira especial, creio que o grande trabalho agora é em Guaratiba: preparar o terreno nos próximos cinco meses. E preparar a ida de Alberto Gasbarri, no mês de abril, e do monsenhor Guido Marini, em maio, para os acertos finais. Depois poderemos anunciar oficialmente toda a programação da Jornada e do Santo Padre", concluiu. (EPC)

Com informações da Rádio Vaticano.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Redes sociais podem favorecer o diálogo e o debate, destaca Papa




 
Os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão cientes do valor do diálogo', destaca o Papa na mensagem
 
Redes Sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização. Esse é o tema da mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano divulgada nesta quinta-feira, 24, dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas. Na mensagem, o Santo Padre destacou a funcionalidade das redes sociais, espaços que, quando são valorizados equilibradamente, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate.

Para o Pontífice, se essas formas de diálogo preservarem o respeito e a privacidade, se tiverem responsabilidade e empenho pela verdade, "podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente a harmonia da família humana".

Nesses mesmos ambientes, Bento XVI disse que a troca de informação pode ser frutífera, promovendo uma verdadeira comunicação, amizade e facilitar a comunhão. Mas ele destacou que, desempenhando este papel, as pessoas que participam das redes devem se esforçar para serem autênticas, pois estão partilhando não apenas ideias e informações, mas comunicando a si mesma.

Outro ponto destacado pelo Papa na mensagem é que essa preocupação com a utilização de novas linguagens não é tanto para estar em sintonia com o tempo atual, mas para fazer com que a riqueza do Evangelho alcance a mente e o coração de todos.

O Pontífice também mencionou que a cultura das redes sociais e mudanças na forma de comunicar colocam desafios àqueles que querem falar de verdades e valores. Assim como acontece em outros meios de comunicação, o Papa lembrou que, às vezes, o significado e eficácia da expressão parecem mais determinados pela sua popularidade do que por sua importância.

“Por conseguinte os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão cientes do valor do diálogo, do debate fundamentado, da argumentação lógica; precisam de pessoas que procurem cultivar formas de discurso e expressão que façam apelo às aspirações mais nobres de quem está envolvido no processo de comunicação”.

Além disso, o Papa afirmou que ser verdadeiramente abrangente é um desafio para as redes sociais. Ele mencionou que os fiéis têm cada vez consciência que, se a Boa Nova não for dada também no ambiente digital, poderá ficar alheia àqueles que acham importante estes espaços.

E embora haja o desejo de partilhar a fé no ambiente digital, Bento XVI destacou que, se a partilha do Evangelho é capaz de dar bons frutos, isso acontece pela força que a própria Palavra de Deus tem de tocar os corações e não tanto pelo esforço humano. Nesse sentido, ele citou a necessidade de ter discernimento também nas redes sociais.

“A confiança no poder da ação de Deus deve ser sempre superior a toda e qualquer segurança que possamos colocar na utilização dos recursos humanos. Mesmo no ambiente digital, onde é fácil que se ergam vozes de tons demasiado acesos e conflituosos e onde, por vezes, há o risco de que o sensacionalismo prevaleça, somos chamados a um cuidadoso discernimento”.
 
Fonte: Canção Nova

Sacerdote filipino explica doutrina da Igreja sobre anticoncepcionais

O sacerdote filipino Roberto Latorre, doutor em Teologia, mestre em ciências e escritor, explicou as razões fundamentais pelas quais avança a sacralidade da vida e a reprodução humana. Em um artigo divulgado pelo serviço informativo da Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas (CBCF), o Padre Latorre indicou que a ignorância religiosa, unida ao relativismo secularista, constituem a receita da rejeição aos ensinamentos da Igreja.

roberto_latorre_padre_filipino.jpg

O sacerdote expôs a gravidade do desconhecimento da doutrina da Igreja entre os fiéis. "Se diz que a 'natureza detesta o vazio', se a mente está vazia, lhe faltam explicações ou princípios orientadores, então o vazio deve se encher com algo", advertiu o sacerdote. Então é quando a pressão cultural se torna efetiva e a imposição substitui a verdade.

Isto constitui uma genuína ignorância religiosa, termo que não tem para ele um sentido pejorativo, mas de um preocupante realismo. "Creio que o fenômeno que mudou a atitude das pessoas diante dos filhos, pode ser explicada por assimilação de atitudes secularistas radicais entre os católicos", explicou o sacerdote. Não se trata somente das ideias em torno do aborto e da contracepção, mas com respeito a outros temas de Fé. "Somente no contexto de um correto entendimento de outros aspectos da Fé é que os Católicos e inclusive os não cristãos podem entender o ensinamento da Igreja sobre os anticoncepcionais".

O Padre Latorre lamentou que essa ignorância signifique uma mudança de atitude dentro da família. "Para pessoas com esta atitude, as crianças não são acolhidas com os braços abertos. Alguns casais desejam ter filhos, mas não incondicionalmente". O sentido mesmo da família se confunde quando os filhos são rejeitados se ameaçam o estilo de vida desejado ou os planos dos pais, no lugar de acomodar a vida familiar à chegada dos novos filhos.

O sacerdote explicou que a Igreja ensina uma verdadeira paternidade responsável e aberta com generosidade à vida, que se bem admite a consideração de razões de peso para limitar o tamanho da família, "deve-se sempre respeitar o verdadeiro bem das relações maritais e orientar a pessoa até a virtude". Nesse contexto, os pais de família atuam de forma genuinamente responsável, já que "o primeiro requisito da responsabilidade é a retidão moral".

O presbítero e acadêmico destacou que é importante responder desde a verdade da Igreja dos interrogantes sobre o sentido da vida, o plano de Deus para o homem, e o verdadeiro significado do amor humano. "É importante dar-lhe às pessoas a reta doutrina sobre a sexualidade, e é por isto que a educação sexual, que é muito necessária, deve ser transmitida no núcleo da 'Igreja doméstica', que é a família cristã".

Com informações de CBCP News.Manila.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Catequese de Bento XVI: reflexão sobre o Credo 23/01/2013




CATEQUESE
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 23 de janeiro de 2013



Queridos irmãos e irmãs,gostaria de iniciar hoje a refletir convosco sobre o Credo, isso é, sobre a solene profissão de fé que acompanha a nossa vida de crentes. O Credo começa assim: "Eu creio em Deus". É uma afirmação fundamental aparentemente simples na sua essencialidade, mas que abre ao infinito mundo do relacionamento com o Senhor e com o seu mistério. Crer em Deus implica adesão a Ele, acolhimento da sua Palavra e obediência alegre à sua revelação. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, " a fé é um ato pessoal: é a livre resposta do homem à iniciativa de Deus que se revela" (n. 166). Poder dizer acreditar em Deus é também um dom - Deus se revela, vem ao nosso encontro - e um empenho, é graça divina e responsabilidade humana, em uma experiência de diálogo com Deus que, por amor, "fala aos homens como aos amigos" (Dei Verbum, 2), fala a nós a fim de que, na fé e com a fé, possamos entrar em comunhão com Ele.

Onde podemos escutar Deus e a sua Palavra? Fundamental é a Sagrada Escritura, na qual a Palavra de Deus se faz escutável para nós e alimenta a nossa vida de "amigos" de Deus. Toda a Bíblia narra o revelar-se de Deus à humanidade; toda a Bíblia fala de fé e nos ensina a fé narrando uma história na qual Deus leva adiante o seu projeto de redenção e se faz próximo a nós homens, através de tantas luminosas figuras de pessoas que acreditam Nele e Nele confiam, até a plenitude da revelação no Senhor Jesus.

Muito belo, a este respeito, é o capítulo 11 da Carta aos Hebreus, que escutamos há pouco. Aqui se fala da fé e se colocam à luz grandes figuras bíblicas que a viveram, transformando-se modelo para todos os crentes. Diz o texto no primeiro versículo: "A fé é fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê" (11, 1). Os olhos da fé são, portanto, capazes de ver o invisível e o coração do crente pode esperar além de toda a esperança, propriamente como Abraão, do qual Paulo diz na Carta aos Romanos que “acreditou, esperando contra toda a esperança” (4,18).

E é propriamente sobre Abraão que gostaria de concentrar-me e concentrar a nossa atenção, porque é ele a primeira grande figura de referência para falar de fé em Deus: Abraão o grande patriarca, modelo exemplar, pai de todos os crentes (cfr Rm 4, 11-12). A Carta aos Hebreus o apresenta assim: "Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa. Por que tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus” (11,8-10).

O autor da Carta aos Hebreus faz também referência ao chamado de Abraão, narrado no Livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia. O que pede Deus a este patriarca? Pede-lhe para partir abandonando a própria terra para ir para o país que lhe mostraria, "Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrar" (Gen 12, 1). Como respondemos nós a um convite similar? Trata-se, na verdade, de uma partida à escuridão, sem saber onde Deus o conduzirá; é um caminho que pede uma obediência e uma confiança radical, ao qual só a fé concede o acesso. Mas a escuridão do desconhecido – onde Abraão deve ir – é iluminada pela luz de uma promessa; Deus acrescenta ao comando uma palavra tranquilizante que abre diante de Abraão um futuro de vida em plenitude: “farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome...e todas as famílias da terra serão benditas em ti” (Gen 12, 2.3). 

A benção, na Sagrada Escritura está ligada primeiramente ao dom da vida que vem de Deus e se manifesta antes de tudo na fecundidade, em uma vida que se multiplica, passando de geração em geração. E à benção está ligada também a experiência da posse de uma terra, de um lugar estável no qual viver e crescer em liberdade e segurança, temendo a Deus e construindo uma sociedade de homens fiéis à Aliança, “reino de sacerdotes e nação santa” (cfr Es 19, 6). 

Por isso Abraão, no projeto divino, está destinado a transformar-se “pai de  uma multidão de povos” (Gen 17, 5; cfr Rm 4, 17-18) e a entrar em uma nova terra onde habitar. Porém, Sara, sua esposa, é estéril, não pode ter filhos; e o país para o qual Deus o conduz é distante da sua terra de origem, já está habitado por outras populações, e não lhe pertencerá mais verdadeiramente. O narrador bíblico o enfatiza, com muita discrição: quando Abraão chega ao lugar da promessa de Deus: “os cananeus estavam então naquela terra” (Gen 12, 6). A terra que Deus doa a Abraão não lhe pertence, ele é um estrangeiro e como tal permanecerá para sempre, com tudo aquilo que isto comporta: não ter ambição de propriedade, sentir sempre a própria pobreza, ver tudo como presente. Esta é também a condição espiritual de quem aceita seguir o Senhor, de quem decide partir acolhendo o seu chamado, sob o sinal de sua invisível mas poderosa benção. E Abraão, “pai dos crentes”, aceita este chamado, na fé. Escreve São Paulo na Carta aos Romanos: “Ele acreditou, esperando contra toda a esperança e assim e se tornou pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. Ele não vacilou na fé, embora reconhecendo o seu próprio corpo sem vigor – pois tinha quase cem anos – e o seio de Sara igualmente amortecido. Ante a promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé deu glória a Deus. Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4, 18-21). 

A fé conduz Abraão a percorrer um caminho paradoxal. Ele será bendito, mas sem os sinais visíveis da benção: recebe a promessa de formar grande povo, mas com uma vida marcada pela esterilidade de sua esposa Sara; é conduzido em uma nova pátria, mas deverá viver como estrangeiro; e a única posse de terra que lhe será concedida será aquela de um pedaço de terreno para enterrar Sara (cfr Gen 23, 1-20). Abraão é bendito porque, na fé, sabe discernir a benção divina indo além das aparências, confiando na presença de Deus também quando os seus caminhos lhe parecem misteriosos. 

O que significa isto para nós? Quando afirmamos: “Eu creio em Deus”, dizemos como Abraão: “Confio em ti, confio-me a ti, Senhor”, mas não como a Qualquer um a quem recorrer somente nos momentos de dificuldade ou a quem dedicar qualquer momento do dia ou da semana. Dizer “Eu creio em Deus” significa fundar sobre Ele a minha vida, deixar que a sua Palavra a oriente a cada dia, nas escolhas concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo. Quando, no Rito do Batismo, por três vezes pergunto: “Crês?” em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, a santa Igreja Católica e as outras verdades de fé, a tríplice resposta é no singular: “Creio”, porque é a minha existência pessoal que deve receber um avanço com o dom da fé, é a minha existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que participamos de um Batismo devemos perguntar-nos como vivemos cotidianamente o grande dom da fé. 

Abraão, o crente, ensina-nos a fé; e, como estrangeiro na terra, nos indica a verdadeira pátria. A fé nos torna peregrinos na terra, inseridos no mundo e na história, mas em caminho para a pátria celeste. Crer em Deus nos torna, portanto, portadores de valores que frequentemente não coincidem com a moda e a opinião do momento, pede-nos para adotar critérios e assumir comportamentos que não pertencem ao modo comum de pensar. O cristão não deve ter temor de ir “contra a corrente” para viver a própria fé, resistindo a tentação da “uniformidade”. Em tantas de nossas sociedades Deus se tornou o “grande ausente” e no seu lugar estão muitos ídolos, diversos ídolos e sobretudo a posse e o “eu” autônomo. E também os significativos e positivos progressos da ciência e da técnica têm levado o homem à ilusão de onipotência e de auto-suficiência, e um crescente egocentrismo criou não poucos desequilíbrios dentro dos relacionamentos interpessoais e dos comportamentos sociais. 

No entanto, a sede de Deus (cfr Sal 63, 2) não foi extinta e a mensagem evangélica continua a ecoar através das palavras e obras de tantos homens e mulheres de fé. Abraão, o pai dos crentes, continua a ser pai de muitos filhos que aceitam caminhar sob seus passos e se colocam em caminho, em obediência à vocação divina, confiando na presença benevolente do Senhor e acolhendo a sua benção para fazer-se benção para todos. É o mundo abençoado da fé ao qual todos somos chamados, para caminhar sem medo seguindo o Senhor Jesus Cristo. E é um caminho às vezes difícil, que conhece também o julgamento e a morte, mas que abre a vida, em uma transformação radical da realidade que somente os olhos da fé são capazes de ver e desfrutar em plenitude. 

Afirmar “Eu creio em Deus” leva-nos, então, a partir, a sair continuamente de nós mesmos, como Abraão, para levar na realidade cotidiana na qual vivemos a certeza  que nos vem da fé: a certeza, isso é, da presença de Deus na história, também hoje; uma presença que leva vida e salvação, e nos abre a um futuro com Ele para uma plenitude de vida que não conhecerá nunca o pôr do sol.



O Desaparecimento dos Adultos - Parte Final



A tarefa de se tornar adultos

Mas o que significa ser adulto? Significa, antes de tudo, aceitar não ser mais criança, renunciando aos valores e comportamentos de idades precedentes para assumir a novos: a renúncia é a condição do crescimento, como bem tinha intuído Max Scheler[xxiv].

Deixar uma fase: isto é o que o adulto atual não parece mais capaz de fazer, antes de tudo, a nível imaginativo, lamentando-se sempre da criança ou do adolescente que jamais foi. Trata-se, porém, de acolher o que Freud chamava de o princípio da realidade que passa por uma ferida, uma experiência de impotência e de mortalidade que, paradoxalmente, no momento no qual vem assumido, fortalece o ser humano.

Isto era o significado dos “ritos de passagem” ou de iniciação, que nas sociedades de cada época marcavam o ingresso do jovem na idade adulta, mediante cerimônias guiadas por adultos. Os ritos de iniciação resultam fundamentais porque têm como objeto a agressividade, o sofrimento e a morte, em outras palavras, o ser humano na sua verdade e fragilidade. O rito podia fazer isso, porque recordava a sacralidade da vida e a sua relação com Deus; isso era o significado do gesto de tirar com violência a criança dos braços da mãe (que até aquele momento era o ponto de referência peculiar) para elevá-la ao céu, um gesto com o qual ela recebe a confirmação da própria identidade: “O significado desse gesto é claro: se consagram os neófitos ao Deus celeste”[xxv]. Essa tarefa sempre foi peculiar do pai.

Quando não se cumprem os ritos de iniciação, esses não desaparecem, mas enlouquecem, dando origem às derivas do “bando”. As violências das baby gang, o bullying masculino e feminino, os estupros de grupo, os “embalos de sábado à noite”, os comportamentos de risco, o uso de drogas em grupo, a atração pelo macabro são ritos de iniciação enlouquecidos, pedidos degenerados de tomar contato com a dimensão da corporeidade, da relação, da agressividade, do perigo, da morte, mas sem que exista, no entanto, um adulto capaz de acompanhar-lhes.

O desaparecimento dos adultos se traduz também numa redefinição dos papéis familiares: não são mais os filhos que devem aprender dos pais e receber deles normas e ensinamentos, mas ao contrário, são os pais que se conformam aos critérios e aos comportamentos dos filhos, procurando desse modo conseguirem a aprovação deles.

A necessidade de um modelo

Para ser adulto deve-se, pois, ter recebido uma ferida, aquela ruptura violenta que caracteriza o ingresso na realidade representada pelos ritos de iniciação. Tomar contato com aquela ferida significa para o jovem reconhecer e acolher a própria fragilidade. Isso lhe permite afrontar a realidade, abandonando as fantasias pueris e reconhecendo os próprios desejos profundos. Tornar-se adulto não significa de nenhuma maneira sentir-se onipotente, livre de defeitos ou limites, mas ocupar o próprio lugar, aceitando a possibilidade de equivocar, acolhendo o tempo que passa[xxvi].

O primeiro ensinamento que Deus dá ao homem na Bíblia é exatamente esse: se queres viver, se queres saborear a vida, recorda-te de que eres criatura, de que não és Deus. Isso é expresso na proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (cfr. Gn. 2, 16): no trecho, aquela árvore simboliza o próprio Deus e o homem deve preservar-se do desejo de querer tomar-lhe o posto, porque acabará se destruindo. Naquele ensinamento podem-se conter as três etapas fundamentais do desenvolvimento humano: o nascimento, o desaleitamento, a derrota edípica. Essas constituem as três diferentes derrotas da onipotência, são os três “pontos de não-retorno” próprios do crescimento (em relação à condição pré-natal, ao aleitamento, a um ligame exclusivo com a mãe), indispensáveis para entrar na realidade, para ser “vivo”. Se cumpridas corretamente, essas três renúncias permitem, na idade adulta, fazer escolhas definitivas; por outro lado, a maior parte das dificuldades e do desgosto de viver é ligada exatamente a esses três aspectos.

À raiz de muitos pedidos de ajuda psicológica está frequentemente a não aceitação da própria verdade de criatura, marcada pelo limite e pela fragilidade: não se aceitar a si mesmo, antes de tudo o próprio corpo (pensemos no boom de cirurgias plásticas e do lifting com consequências também graves para a própria saúde, mas também nos distúrbios alimentares como a bulimia e a anorexia), não se aceita a própria família de proveniência, a própria história e personalidade.

Dever fundamental da mãe e do pai, o qual, como visto em outras ocasiões, é símbolo forte do Pai celeste, é apresentar novamente aos próprios filhos esse ensinamento do livro de Gênesis[xxvii], de tomar consciência dos próprios limites, condição fundamental para se tornar adulto e para produzir frutos na própria vida. Os pais podem fazer isso porque precedentemente acertaram as contas com a própria fragilidade, com a própria ferida originária[xxviii].

Se os pais querem, em vez, salvaguardar os filhos de todo tipo de dificuldade, isso levará ao aparecimento de dúvidas e frustrações interiores, que minam, à raiz, a estima de si e a capacidade de assumir responsabilidades. Principalmente os filhos terão dificuldades em aproximar-se aos seus desejos profundos, àquilo que realmente querem das suas vidas: “A clínica dos assim ditos novos sintomas mostra bem como o problema da atual insatisfação da juventude não seja tanto aquele do conflito entre o programa do impulso e aquele da Civilização [...], mas de como aceder à experiência do desejo [...]. A crise atual da operabilidade da ordem simbólica coincide com a crise do poder de interdição, mas também com a dificuldade da transmissão do desejo de uma geração a outra”[xxix].

Trata-se de saber dizer “não”, de colocar limites, impopulares certamente, mas que permitam de aceder ao desejo do coração e tornam capaz de superar os obstáculos que se entrepõem à realização dos mesmos. O limite e a frustração são elementos essenciais da educação, ainda que acompanhados do afeto e da confiança. Às vezes é o filho mesmo a pedir esse limite e que uma relação assimétrica (de adulto a filho) seja posta, também em forma não verbal, como no caso da garota surpreendida roubando em uma grande loja: “Essa jovem não estava simplesmente fraudando a lei ou gozando da emoção causada pela sua transgressão. Em modo paradoxal, ela estava fazendo exatamente o contrário: estava buscando ser vista pela lei, isto é, de fazer existir uma lei. ‘Alguém me vê? Alguém pode me ajudar a não me perder, a não me extraviar? Existe em qualquer lugar uma lei ou, mais simplesmente, um adulto que possa responder-me, que possa perceber a minha existência?’ A pergunta dos nossos jovens insiste e nos coloca com as costas contra o muro: ‘Vocês existem? Os adultos ainda existem? Há alguém ainda que saiba assumir responsavelmente o peso da própria palavra e dos próprios atos?’ Na cleptomania daquela garota podemos perceber toda a grandeza da insatisfação da juventude contemporânea”[xxx].

O filho pode compreender o valor do limite se vê nos pais não um tirano que o rejeita, nem o “camarada” que se coloca no mesmo nível dizendo-lhe sempre “sim”, mas alguém que o introduz com afeto na realidade, na sua dimensão de mediocridade e de fragilidade. O adulto pode fazer isso porque antes a acolheu em si mesmo. Isso lhe consente não colocar-se no mesmo nível daquele que é chamado a educar e de não ceder a chantagens afetivas.

Não se trata certamente de uma tarefa fácil: essa é, porém, o único modo para não fazer do filho um escravo dos próprios caprichos. A incapacidade de dizer “não” é um dos sinais mais fortes da crise do adulto e da perigosa inversão da derrota edípica, uma inversão inédita, na qual são os pais a pedir aos filhos de serem reconhecidos[xxxi].

Retomar o arco de Ulisses

A crise do adulto, reconhecida e descrita pela mitologia, pode encontrar, na mesma mitologia, possíveis saídas. Toda a primeira parte da Odisseia é chamada de Telemaqueia, a busca afanosa pelo pai ausente, por parte do filho. Ele não se resigna com o seu desaparecimento, mas deseja ver o pai, ainda que não o tenha jamais conhecido verdadeiramente, anseia de poder ter dele ao menos uma imagem para ser impressa na sua mente[xxxii].

O caso de Telêmaco é muito parecido à situação da juventude atual. Para ambos não são, certamente, algumas coisas que lhes faltam, nem mesmo o bem-estar; esses se descobrem, às vezes, desprovidos daquela representação ideal de si que somente o pai é capaz de dar.

Na Odisseia, Ulisses pode ser finalmente reconhecido como pai somente quando, no final da poesia, o filho o vê empunhar o arco, com aparência humilde, mas decidido: “parece que Homero pensou nos nossos tempos e que nos advertiu: jamais o pai desaparece totalmente. Mas não creiais de reencontrá-lo nos machos barulhentos: aqueles são os Procis, os eternos não-adultos. Se alguém, em vez, é humilde, paciente, poderia ser ele, o sobrevivente de guerras e tempestades”[xxxiii].

O arco pode simbolizar o papel e a tarefa do pai, que não é delegável; e, de fato, nenhum dos Procis tem a capacidade de manejá-lo, porque não possuem autoridade para isso. Mas o pai do qual se fala não é certamente o pai-patrão que caracterizou as nossas sociedades dos últimos dois séculos, levando ao final à sua rejeição e afastamento. Ulisses, em vez, diz com precisão Homero, sabe tender o arco como um músico acaricia a harpa, associando com esse gesto as duas funções essenciais do pai: a força e a ternura[xxxiv].

Somente quando é capaz de unirem em si essas duas virtudes, a autoridade e a ternura, Ulisses pode novamente empunhar o seu arco e meter fim à “noite dos Procis” [xxxv].

Tradução ao português:
Pe. Anderson Alves e Joyce Scoralick.

[xxiv] Cfr. SCHELER, M. Il risentimento nella edificazione delle morali, Milano, Vita e Pensiero, 1975, 53.

[xxv] ELIADE, M. La nascita mistica. Riti e simboli d’iniziazione, Brescia, Morcelliana, 1974, 24; cfr. tbm. ZOJA, L.: «A elevação da criança entre os Romanos servia ao nascimento psíquico do filho e do pai como pai» (Il gesto di Ettore …, cit., 247; cursiva no texto). De outra época e cultura, veja-se a descrição de MANDELA, N. culminante com o grito “Ndiyindoda! (‘Sou um homem!’)” (Lungo cammino verso la libertà, Milano, Feltrinelli, 2010, 35). Sobre os ritos de iniciação permanecem fundamentais os estudos de VAN GENNEP, A. I riti di passaggio, Torino, Boringhieri, 1981.

[xxvi] Cfr. RECALCATI, M. Cosa resta del padre? La paternità nell’’epoca ipermoderna, Milano, Cortina, 2011, 111-115.

[xxvii] Para ser mais preciso, os dois primeiros aspectos vêem a mãe como protagonista, o terceiro não redutível apenas à derrota edipiana, é próprio do pai e reflete o simbolismo mais complexo dos ritos de iniciação. Na realidade, ambos os pais também são fundamentais na diferente especificidade de suas intervenções, para a ajuda mútua que são chamados a dar-se, nas diferentes fases da vida dos filhos (cf. Cucci, G. Esperienza  religiosa e psicologia, Leumann [To] – Roma, Elledici – La Civiltà Cattolica, 2009, 79,98;. ID., La forza dalla debolezza. Aspetti psicologici dela vita spirituale, Roma, Adp, 2011, 121-133).

[xxviii] Cfr. RISÉ, C. Il padre, l’assente inaccettabile, Cinisello Balsamo (Mi), San Paolo, 2003, 14-24. C. CUCCI, “o pai é chamado a desenvolver um papel decisivo n avida de fé”, in Civ. Catt. 2009 III 118-127; “Il suicidio giovanile. Una drammatica realtà del nostro tempo”, ivi, 2011 II 121-134.

[xxix] RECALCATI, M. Cosa resta del padre? …, cit., 105-107. Cfr. CUCCI, G. «Il desiderio, motore della vita», in Civ. Catt., 2010 I 568-578.

[xxx] RECALCATI, M. “Dove sonno finiti gli adulti?”, cit., 57.

[xxxi] Cfr. ID., Cosa resta del padre? …, cit., 108 s.

[xxxii] “Na Telemachia o protagonista busca notícias do pai não só para saber onde era e para saber como era, mas, sobretudo, para conhecer a personalidade e desenvolver a si mesmo segundo aquele modelo» (PRIVITERA, G. A. Il ritorno del guerriero. Lettura dell’O­dissea, Torino, Einaudi, 2005, 57; cfr. HOMERO, Odisseia, Torino, Utet, 2005, 1. I, 83.111.115 s. 240; 1, IV, 317).

[xxxiii] ZOJA, L. Il gesto di Ettore, cit, 113 s; HOMERO, Odissea, cit., XVI, 148 s.

[xxxiv] “O astuto Odisseu, não apenas deliberou e em todas as partes provou o gran­de arco, como quando um homem experto em tocar citra e em cantar move facilmente a corda [...] imediatamente moveu assim, sem esforço, o grande arco” (HOMERO, Odisseia, cit., XXI, 404-410).

[xxxv] ZOJA, L. Il gesto di Ettore…, cit., 305.