quinta-feira, 31 de maio de 2012

Catequese de Bento XVI: Oração nas Cartas de Paulo (3) – 30/05/2012





Praça de São Pedro
Vaticano
Quarta-feira, 30 de maio de 2012

Queridos irmãos e irmãs,


Nestas catequeses estamos meditando a oração nas cartas de São Paulo e buscamos ver a oração cristã como um verdadeiro e pessoal encontro com Deus Pai, em Cristo, mediante o Espírito Santo. Hoje, neste encontro, entram em diálogo o “sim” fiel de Deus e o “amém” confiante dos crentes. E gostaria de destacar esta dinâmica, apoiando-me sobre a Segunda Carta aos Coríntios. 

São Paulo envia esta apaixonada Carta a uma Igreja que mais de uma vez colocou em discussão seu apostolado, e ele abre o seu coração porque os destinatários são assegurados sobre a fidelidade a Cristo e ao Evangelho.

Esta Segunda Carta aos Coríntios inicia com uma das orações de benção mais altas do Novo Testamento. Soa assim: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angustia!” (2Cor 1,3-4).

Então, Paulo vive em grande tribulação, são muitas as dificuldades e as aflições que teve que atravessar, mas nunca cedeu ao desânimo, sustentado pela graça e pela proximidade com o Senhor Jesus Cristo, pelo qual se tornou apóstolo e testemunha da entrega de toda própria existência em Suas mãos.

Justamente por isso, Paulo inicia esta Carta com uma oração de benção e de agradecimento a Deus, porque não houve momento algum de sua vida de apóstolo de Cristo no qual tenha sentido menos sustentado pelo Pai misericordioso, pelo Deus de toda consolação. Sofreu terrivelmente, disse ele mesmo nesta Carta, mas em todas aquelas situações, onde parecia não abrir-se outra estrada, recebeu consolação e conforto de Deus. 

Para anunciar Cristo, logo também sofreu perseguições, até ser trancado na prisão, mas se sentiu sempre interiormente livre, animado pela presença de Cristo e ansioso para anunciar a palavra de esperança do Evangelho. Da prisão, assim escreve a Timóteo, seu fiel colaborador. Ele da cadeia escreve: “A palavra de Deus, esta não se deixa acorrentar. Pelo que tudo suporta por amor dos escolhidos, para que também eles consigam a salvação em Jesus Cristo, com a glória eterna” (2Tm 2,9b-10).

Em seu sofrimento por Cristo, ele experimenta a consolação de Deus. Escreve: “à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações” (2Cor 1,5).

Na oração de benção que introduz a Segunda Carta aos Coríntios, predomina em seguida, ao lado do tema das aflições, o tema da consolação, que não deve ser interpretado somente como um simples conforto, mas, sobretudo, como encorajamento e exortação para não deixar-se vencer pela tribulação e pela dificuldade.

O convite é para viver cada situação unidos a Cristo, que carrega sobre si todo sofrimento e pecado do mundo para levar luz, esperança e redenção. E assim, Jesus nos torna capazes de consolar aqueles que estão à nossa volta e que se encontram em todo tipo de aflição. 

A profunda união com Cristo na oração, a confiança em sua presença, conduzem à disponibilidade de partilhar os sofrimentos e as aflições dos irmãos. Escreve Paulo: “Quem é fraco, que eu não seja fraco? Quem sofre escândalo, que eu não me consuma de dor?” (2Cor 11,29). Estas partilhas não nascem de uma simples benevolência, nem mesmo da generosidade humana ou do espírito de altruísmo, mas surge do consolo do Senhor, do sustento inabalável da “extraordinária potência que vem de Deus e não de nós” (2Cor 4,7).

Queridos irmãos e irmãs, a nossa vida e o nosso caminho cristão são marcados muitas vezes pela dificuldade, incompreensão e sofrimento. Todos nós sabemos. No relacionamento fiel com o Senhor, em nossa oração constante, cotidiana, podemos também nós, concretamente, sentir a consolação que vem de Deus. E isso reforça a nossa fé, pois nos faz experimentar de modo concreto o “sim” de Deus ao homem, a nós, a mim, em Cristo; faz sentir a fidelidade do Seu amor, que chega até a doação de Seu Filho sobre a Cruz. 

Afirma São Paulo: “O Filho de Deus, Jesus Cristo, que nós, Silvano, Timóteo e eu, vos temos anunciado não foi ‘sim’ e depois ‘não’, mas sempre foi ‘sim’. Porque todas as promessas de Deus são ‘sim’ em Jesus. Por isso, é por ele que nós dizemos ‘Amém’ à glória de Deus” (2Cor 1,19-20). 

O “sim” de Deus não é reduzido pela metade, não está entre o “sim” e o “não”, mas é um simples e seguro “sim”. E a este “sim” nós respondemos com o nosso “sim”, com o nosso “amém” e, assim, estamos seguros no “sim” de Deus.

A fé não é primariamente uma ação humana, mas dom gratuito de Deus, que se enraíza na sua fidelidade, no seu “sim”, que nos faz compreender como viver a nossa existência amando Ele e os irmãos. Toda a história de salvação é um progressivo revelar-se desta fidelidade de Deus, apesar das nossas infidelidades e nossas negações, na certeza de que “os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis”, como declara o Apóstolo na Carta aos Romanos (11,29).

Queridos irmãos e irmãs, o modo de agir de Deus – bem diferente do nosso – nos dá consolação, força e esperança, porque Deus não retira o seu “sim”. Diante dos conflitos nas relações humanas, às vezes também familiares, nós somos levados a perseverar no amor gratuito, que requer empenho e sacrifício. Em vez disso, Deus não se cansa de nós, não se cansa nunca de ter paciência conosco e com sua imensa misericórdia nos precede sempre, vem ao nosso encontro por primeiro, é absolutamente confiável este seu “sim”. Na Cruz, Ele nos mostra a medida do seu amor, que não se calcula, não tem tamanho. 

São Paulo, na Carta a Tito escreve: “Mas um dia apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens” (Tit 3,4). E por isso, este “sim” se renova a cada dia “quem nos confirma a nós e a vós em Cristo, e nos consagrou, é Deus. Ele nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor 1,21b-22).

É, de fato, o Espírito Santo que torna constantemente presente e vivo o “sim” de Deus em Jesus Cristo e cria em nosso coração o desejo de segui-lo para entrar totalmente, um dia, no seu amor, quando receberemos uma moradia não construída por mãos humanas nos Céus. 

Não existe alguém que não seja alcançado ou convidado a este amor fiel, capaz de esperar, mesmo aqueles que continuamente respondem com o “não” de rejeição ou de coração endurecido. Deus nos espera, nos busca sempre, quer acolher-nos na comunhão consigo para doar a cada um de nós a plenitude de vida, de esperança e de paz.

Sobre o “sim” fiel de Deus, une-se o “amém” da Igreja que ressoa em cada ação da liturgia: “Amém” é a resposta da fé que conclui sempre a nossa oração pessoal e comunitária. E que expressa o nosso “sim” à iniciativa de Deus. Geralmente, respondemos por hábito com o nosso “Amém” na oração, sem compreender seu significado profundo. 

Este termo deriva do ‘aman’ que, em hebraico e em aramaico, significa “estabilizar”, “consolidar” e, consequentemente, “estar certo”, “dizer a verdade”. Se olharamos na Sagrada Escritura, vemos que este “amém” é dito no fim dos Salmos de benção e louvor, como por exemplo, no Salmo 41: “Vós, porém, me conservareis incólume, e na vossa presença me poreis para sempre. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, de eternidade em eternidade! Assim seja! Amém!” (vv. 13-14). 

Ou expressa adesão a Deus, no momento em que o povo de Israel retorna cheio de alegria do exílio babilônico e diz o seu “sim”, o seu “amém” a Deus e a sua Lei. No Livro de Neemias se narra que, depois deste retorno, “Esdras abriu o livro (da Lei) à vista do povo todo; ele estava, com efeito, elevado acima da multidão. Quando o escriba abriu o livro, todo povo levantou-se. Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus; ao que todo o povo respondeu levantando as mãos: ‘Amém! Amém!’”(Nee 8,5-6).

Desde o início, portanto, o “amém” da liturgia judaica se tornou o “amém” das primeiras comunidades cristãs. E o livro da liturgia cristã por excelência, o Apocalipse de São João, inicia com o “amém” da Igreja: “Àquele que nos ama, que nos lavou de nossos pecados no seu sangue e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus e seu Pai, glória e poder pelos séculos e séculos! Amém” (Apo 1,5b-6). Assim no primeiro capítulo do Apocalipse. E o mesmo livro é concluído com a invocação “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Apo 22,21).

Queridos amigos, a oração é o encontro com uma Pessoa viva a se escutar e com quem dialogar; é o encontro com Deus que renova sua fidelidade inabalável, o seu “sim” ao homem, a cada um de nós, para doar-nos a sua consolação em meio às tempestades da vida e nos fazer viver, unidos a Ele, uma existência plena de alegria e bem, que encontrará o seu cumprimento na vida eterna.

Em nossa oração, somos chamados a dizer “sim” a Deus, a responder com este “amém” de adesão, de fidelidade a Ele de toda nossa vida. Esta fidelidade não podemos jamais conquistar com as nossas forças, mas é fruto do nosso empenho cotidiano; essa vem de Deus e é fundada sobre o “sim” de Cristo, que afirma: Meu alimento é fazer a vontade do Pai (cfr João 4,34).

É neste "sim" que devemos entrar, entrar neste “sim” de Cristo, na adesão à vontade de Deus, para conseguir dizer, como São Paulo, que não somos mais nós a viver, mas é o próprio Cristo que vive em nós. Então, o “amém” da nossa oração pessoal e comunitária envolverá e transformará toda a nossa vida, uma vida de consolação de Deus, uma vida imersa no Amor eterno e inabalável. Obrigado.


      


No fim da audiência geral, o Papa Bento XVI fez um resumo e saudou os peregrinos de língua portuguesa:


Queridos irmãos e irmãs,

A oração é um verdadeiro encontro com Deus Pai, em Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo. Assim se encontram o "sim" fiel de Deus, que vem em nosso auxílio e nos conforta, e o "amém" dos fiéis que, nas provas da vida, se abandonam à vontade divina. A oração perseverante e diária faz-nos sentir, de forma concreta, a consolação do Pai do Céu e a fidelidade do seu amor que foi ao ponto de nos dar o seu Filho na cruz.
Por nossa vez, somos chamados a corresponder com o "amém" duma adesão fiel de toda a nossa vida à sua vontade. Esta fidelidade não se pode alcançar só com as nossas forças, mas vem de Deus e está fundada sobre o "sim" de Cristo, cujo alimento é fazer a vontade do Pai. É neste "sim" que devemos entrar, até podermos repetir, como São Paulo, "já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim". Então o "amém" da nossa oração pessoal e comunitária envolverá e transformará toda a nossa vida.
Amados peregrinos de língua portuguesa, em particular os participantes no curso de formação dos Capuchinhos e demais grupos do Brasil e de Portugal: a todos dou as boas-vindas, encorajando os vossos passos a manterem-se firmes no caminho de Deus. Tomai por modelo a Virgem Mãe! Fez-Se serva do Senhor e tornou-Se a porta da vida, pela qual nos chega o Salvador. Com Ele, desça a minha Bênção sobre vós, vossas famílias e comunidades eclesiais.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pentecostes - O espetáculo das diferenças transfiguradas


“Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceram-lhes, então, uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e repousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2, 1-4).


O conhecimento que se tem hoje a respeito do episódio de Pentecostes provém desta narrativa do evangelista São Lucas. A cena descrita pelo autor dos Atos dos Apóstolos me intriga por uma razão em especial: os discípulos de Jesus não tinham motivo algum para estarem “no mesmo lugar”. O mestre não estava mais entre eles e, se essa turma já brigava enquanto vivia com Jesus, imagine depois de sua morte. Juntar-se naquelas circunstâncias seria criar as condições para que surgissem desavenças ainda maiores.

O que reunia aqueles homens e mulheres ali eram a insana ordem de permanecer em Jerusalém e a incompreendida promessa de que naquela cidade seriam batizados no Espírito Santo. Ordem e promessa proferidas pela boca de Jesus (cf. At 1, 4-8). Insana, porque em Jerusalém estavam aqueles que queriam matar os discípulos, a saber: os chefes do povo judeu, os mesmos que haviam arquitetado a crucifixão do Senhor. O fato de não compreenderem bem o que Jesus havia dito por ocasião da ascensão, isso os deixava sem condições de garantir que aquela promessa se cumpriria. Tudo o que podiam fazer era “esperar”. Ora, se já é difícil esperar por uma coisa certa, quanto mais por uma promessa.
Por isso eu fico pensando no que os discípulos realmente estavam fazendo naquele cenáculo antes da manifestação do Espírito Santo. Só me vem uma coisa na cabeça: eles estavam comendo. Até porque estavam sentados e era por volta de oito horas, boa hora para uma refeição matinal. Essa hipótese procede tanto mais pelo fato de que não é cena incomum nos evangelhos os discípulos comendo com Jesus. Ou melhor: Jesus comendo com os discípulos. Nos evangelhos, é mais fácil ver o mestre comendo do que jejuando.

Jesus chegou a ser acusado de comilão, dada a frequência com que se sentava para refeição (cf. Lc 7, 34). Quando ensinava, ele abusava das metáforas com alimentos: grão de trigo, grão de mostarda, o semeador, a videira, o fermento, etc. Frequentemente, comparava o céu a um banquete (cf. Mt 22, 1-4; 25, 10). A própria vontade do Pai, Jesus disse ser seu “alimento” (cf. Jo 4, 34). E, no limite, afirmou ser ele mesmo o “pão da vida” (cf. Jo 6, 35).

Quando ensinou a orar, não esqueceu de recomendar aos discípulos que pedissem pão (cf. Lc 11, 3). Antes de morrer, sabendo de tudo o que ia lhe acontecer, Jesus disse aos seus amigos: “Tenho desejado ardentemente comer convosco antes de sofrer” (Lc 22, 15). Quem se lembraria de comer momentos antes de passar por uma situação de sofrimento, angústia e morte? Os discípulos estavam tão acostumados em ver Jesus comendo, que quando ele disse a Judas: “O que tens a fazer, faze-o logo”, eles pensaram que estava mandando comprar comida (cf. Jo 13, 29).

Especialmente depois da ressurreição, isso se torna redundante. Quando apareceu aos cinco discípulos, a primeira coisa que Jesus perguntou foi: “Amigos, tendes alguma coisa para comer?” (Jo 21, 4). Também pudera: três dias no sepulcro, devia estar com muita fome. A aparição narrada por Marcos (16, 14) se dá durante uma refeição. Em Lucas (24, 36-43) Jesus anuncia a paz e os discípulos pensam que estão vendo um espírito; Jesus, então, manda que eles o apalpem, diante do que os discípulos ainda permanecem relutantes. Tudo se esclarece quando Jesus come para mostrar que era ele mesmo. Não é de estranhar que tenha sido reconhecido em Emaús, justamente quando partiu o pão (cf. Lc 24, 30-31).

Será que Jesus incutiu esse hábito no grupo de discípulos, para que tivessem um pretexto de se reunir após a sua morte? Não se sabe. O fato é que, naquela refeição no cenáculo, ocorreu algo determinante. Um grande espetáculo, na verdade! De repente, ouviu-se um ruído e, em seguida, apareceram línguas de fogo sobre as cabeças de todos. Deve ter sido estranho, assustador até. Mas era o Espírito Santo.
Neste caso, os fenômenos externos (ruído, línguas de fogo) são sinais que visam impactar, chamar a atenção. Mas a realidade em si é o Espírito Santo mesmo. Note-se que é a casa que fica cheia do ruído, enquanto são as pessoas que ficam repletas do Espírito Santo. Desta forma, aqueles que obedeceram a uma única ordem e acreditaram numa mesma promessa de Jesus, viveram igualmente uma única experiência: a de serem batizados no Espírito.

O Espírito Santo como que assumiu o lugar de Jesus. A partir de Pentecostes, ele é o novo “ponto de convergência” dos discípulos, em quem estes encontram e fundamentam sua unidade. Daí a importância de Pentecostes para a vida em comunidade.

Porém, ao contrário do que dizem alguns, os discípulos em Pentecostes não começaram a falar uma mesma língua. É interessante isto. A expressão está no plural: começaram a falar outras línguas. Pentecostes se opõe a Babel justamente por isto: em Babel, eles falavam uma única língua e não se entendiam (cf. Gn 11, 1.7); no cenáculo, as várias línguas se traduzem em comunhão.

Isso significa que Pentecostes não é um episódio que denota uniformidade e nem seus frutos uma unanimidade. Muito ao contrário. Pentecostes revela um amplo quadro de diversidade: as línguas se repartem (não uma só), repousam sobre cada um (respeito à individualidade) e o Espírito Santo começa sua distribuição de dons. Para mim está claro que o que aconteceu em Pentecostes não foi um espetáculo de “iguais”, mas um “batismo de diferenças”. O Espírito Santo não eliminou a individualidade dos presentes, nem quis que eles se tornassem um todo homogêneo em torno de uma unidade forjada e despótica.

Entretanto, o que me surpreende é como esse quadro plural descrito nos primeiros versículos do capítulo dois de Atos contrasta com aquele apresentado pelo mesmo Lucas mais adiante. “Contrastes” são próprios de Lucas, mas neste ele extrapolou, pois a descrição posterior apresenta uma comunidade quase em comunhão celestial:

A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade (At 4, 32.34 – grifos meus)

Alguns afirmam que este painel a respeito da vida da comunidade cristã primitiva é, na verdade, um quadro ideal – talvez idealizado – da vida fraterna pós-pentecostes. Dessa maneira, ele seria apenas uma referência utópica, sem possibilidade de ser encontrado em sua forma pura. Esta interpretação tem certa coerência, mas discordo de que Lucas tenha traçado esse quadro com base em quimeras. Para mim, é difícil imaginar que um autor como ele, preocupado com a autenticidade das fontes históricas e com o relato preciso dos acontecimentos, tenha feito um parêntese justamente no momento de expor algo tão importante para as gerações futuras dos cristãos.

Toda a narrativa lucana (Evangelho e Atos) não é poesia, mas testemunho. Lucas não ignora as tensões existentes na comunidade primitiva. Exemplo emblemático disto é a narração do episódio de Ananias e Safira, personagens cuja mesquinhez ele parece querer contrastar com a generosidade de Barnabé (cf. At 4, 36- 5, 11).

Então, porque esse contraste? A resposta encontra-se no fato de as duas narrativas são construídas com base no seu fenômeno (em sentido filosófico), ou seja, naquilo queaparece. Em Pentecostes, o que está em evidência são as diferenças. Na descrição da primeira comunidade cristã, sobressai-se a unidade. Mas assim como o pluralismo de Pentecostes não impediu Lucas de ver que todos estavam cheios de um único Espírito, aqui, a unidade não deve impedir de enxergar as diferenças que estão na base da vivência fraterna dos primeiros discípulos.

Na verdade, as diferenças são o fundamento da vida comunitária. É sobre elas que se constrói a convivência fraterna. Dizendo de outro modo: elas são a matéria prima da unidade. Lógico: se a unidade existisse a priori, não haveria indivíduos (e, portanto, não haveria fraternidade, mas mesmice). Isso implica dizer que a diversidade já contém a unidade em potencial e que as diferenças, apesar de não constituírem toda a vida fraterna, estão na sua base.

Numa comunidade realmente fraternal, a diversidade é o que menos aparece para o mundo, mas ela é experimentada de maneira muito concreta no interior da vida comunitária. A experiência com o diferente é a única forma de manifestar ao mundo a beleza da unidade.

E atenção: eliminar diferenças é também uma maneira de extinguir o Espírito. Pois uma comunidade que faz isso (por força de sua estrutura ou pela ignorância de seus membros) se transformará num sistema impessoal no qual os indivíduos, de certa maneira, deixam de existir, dando lugar a uma funcionalidade fria e amorfa. Isso seria Babel e não Pentecostes.

Mas o resultado de pessoas (note-se bem) cheias do Espírito Santo é a gestação de uma comunidade cujo rosto aparece para além de suas diferenças. O que ocorre é que a comunidade transcende sua diversificação, emergindo uma unidade que não é apenas aparente, mas real. A comunidade chega à comunhão sem deixar de ser diversa.

O Espírito Santo gera as diferenças? Não. Elas já existem. Faz com que se aproximem? Também não: elas se aproximam por si mesmas (já estavam reunidos). Diferenças apenas aproximadas criam somente tensões. Então, o Espírito elimina as diferenças? Muito menos ainda. O quê, então? O Espírito Santo transfigura as diferenças. No mesmo sentido em que ocorre em Mt 17, 1-8. Nesse episódio, Jesus subiu à montanha com Pedro, Tiago e João, transfigurando-se diante deles: “Seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz” (v. 2b). As características individuais de Jesus permaneceram; ele não se tornou irreconhecível. Porém, sua imagem transcendeu.

É exatamente isto que ocorre na comunidade cheia do Espírito: as pessoas (ainda sendo pessoas) têm sua singularidade revestida. Elas se tornam semelhantes (movimento assemelhado ao movimento trinitário)E, nesse sentido, elas se transfiguram a si mesmas e transfiguram as suas diferenças. E isso aparece para o mundo com uma força impressionante. Uma comunidade de amor fraterno tem a capacidade de provocar êxtase, deixando estupefatos os homens de hoje, carentes de comunhão fraterna.

O êxtase é provocado não pela uniformidade, mas pelas diferenças transfiguradas. É isto que deixa o mundo intrigado: como pessoas tão diferentes podem ser tão unidas (ou iguais, ou assemelhadas). Acho que Jesus pensava nisso quando disse: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” ( Jo 13, 35). Muito se mitificou desse versículo. Pretendeu-se um amor piegas, uniformizado, controlado, quando na verdade Jesus propunha aquilo que faria em Pentecostes: a transfiguração das diferenças, mediante o que cada crente sai de si e acolhe o diferente, emergindo para o mundo um grande espetáculo.

Os acontecimentos da transfiguração e da união dos primeiros cristãos reservam, ao final, cada qual uma surpresa. Em Mateus, os discípulos erguem os olhos e não vêem mais Moisés e Elias, senão Jesus sozinho. Esse recorte induz a pensar que a solidão também é componente da vida fraterna. Faz parte de sua própria natureza e não é uma distorção ou carência dela. Assim, momentos de solidão e deserto devem ser vividos por cada membro de uma comunidade como espaços privilegiados de encontro com Deus e não como uma ausência dos irmãos, como uma insuficiência de vida fraterna. A solidão é o elemento pelo qual se percebe que por mais intenso, sadio e gostoso que seja viver em comunidade, os irmãos jamais serão capazes de preencher a saudade que cada um tem do Infinito. Há um lugar de encontro pessoal e único com Deus, um lugar deserto, só de Deus: “Eu o conduzirei para o deserto e lhe falarei ao coração” (Os 2, 16).

Lucas, por sua vez, revela que os discípulos, apesar de todas as mudanças pelas quais passaram, numa coisa continuavam os mesmos: “Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração” (At 2, 46 – grifo meu). Continuavam comendo o quanto podiam. E isso os identificava ainda mais como discípulos de Cristo (acusado de comilão), cativando a simpatia do povo (cf. At 2, 47).

Talvez muitos daqueles que se aproximaram da comunidade primitiva tenham sido atraídos pela comida (como se verá nas querelas que surgem posteriormente nas comunidades paulinas: brigas que envolvem alimentos). Mas o que importa e que “todos estavam a caminho da salvação”. Bom, é claro que o mais importante é chegar lá. Mas se no caminho tiver alguma coisa pra mascar…
Ronaldo José de Sousa
Co-Fundador e Formador Geral
da Comunidade Remidos no Senhor

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Os estimuladores do divorcio


G.K.Chesterton 
Os estimuladores do divorcio 
Capítulo disponível no livro La Mujer y lá Familia, publicado pela editora Styria

O divorcio é algo que os meios de comunicação não só abordam, como também tratam como se fosse uma festa, algo que mereceria as mesmas flores e pompas de uma boda. Uma celebração que teria, da mesma forma, sua torta de divorcio, sua lista de presentes, muitos taças em brindes alegres e um grupo de convidados aglomerados para ver o marido e a mulher desaparecerem em direções opostas. Não vou defender, neste momento, minha visão religiosa do casamento. Só quero mostrar a freqüente falta de lógica com que tratam este assunto. Nem de longe é um debate racional, senão uma espécie de coro sentimental com argumentos do tipo: "Nós respeitamos o casamento. Inclusive ele nos parece fantástico e sagrado. Porém o casamento é amor, e quando o amor passa de um lugar para outro, quando morre e renasce em outro lugar, o casamento tem que fazer o mesmo". Com toda minha simpatia pelos sentimentais, este pensamento é uma falácia. É como se um ladrão dissesse que tem respeito pelas coisas dos outros, porém que está pensando em roubar um quadro de Van Gogh do barão Thyssen, porque ele já não o aprecia tanto. É obvio que esta pessoa não entende o que significa uma lei, nem tampouco uma instituição. Porque o casamento é uma instituição jurídica como qualquer outra, estabelecida para cumprir certas funções. Uma chácara não pode se despedir do caseiro, quando o interesse dele por ela começa a decair. Um cão não pode deixar seu dono e fugir alegremente com outra pessoa. E a relação entre esposos, bem como a relação entre pais e filhos, não pode ser desfeita por um mero afloramento sentimental. Há exceções, porém o que agora me interessa é deixar claro que existe uma instituição que exige lealdade. Os sentimento têm o direito de terem os sentimentos que quiserem, porém não podem afirmar que uma instituição é a mesma coisa que uma emoção. Um dos inconvenientes do mundo pagão era que abaixo de certo nível social, ninguém estava seguro quanto a questão da paternidade. Quando as escravas cristãs começaram a defender sua dignidade até a morte, um novo mundo brotou. A cristandade, foi a civilização que esses mártires construíram. E agora, a antiga escravidão volta a oferecer o mais forte de seus subornos. Aqueles que desejam a degradação da dignidade humana, têm escolhido muito bem seus instrumentos.

Oração Sacerdotal de Jesus – Bento XVI


PAPA BENTO XVI AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VIQuarta-feira, 25 de Janeiro de 2012

Queridos irmãos e irmãs,
Na Catequese de hoje concentramos a nossa atenção sobre a oração que Jesus dirige ao Pai na «Hora» da sua elevação e da sua glorificação (cf. Jo 17, 1-26). Como afirma o Catecismo da Igreja Católica: «A tradição cristã chama-lhe, a justo título, a oração “sacerdotal” de Jesus. Ela é, de facto, a oração de nosso Sumo Sacerdote, inseparável do seu sacrifício, da sua “passagem” [páscoa] deste mundo para o Pai, em que é inteiramente “consagrado” ao Pai» (n. 2.747).
Esta oração de Jesus é compreensível na sua riqueza extrema, sobretudo se a inserirmos no cenário da festa judaica da expiação, o Yom kippur. Naquele dia, o Sumo Sacerdote cumpre a expiação primeiro para si mesmo, depois para a classe sacerdotal e finalmente para toda a comunidade do povo. A finalidade é restituir ao povo de Israel, após as transgressões de um ano, a consciência da reconciliação com Deus, a consciência de ser povo eleito, «povo santo» no meio dos outros povos. A oração de Jesus, apresentada no capítulo 17 do Evangelho segundo João, retoma a estrutura desta festa. Nessa noite, Jesus dirige-se ao Pai no momento em que se oferece a Si mesmo. Sacerdote e vítima, Ele ora por Si próprio, pelos apóstolos e por todos aqueles que acreditam nele, pela Igreja de todos os tempos (cf. Jo 17, 20).
A oração que Jesus recita por Si mesmo é o pedido da sua glorificação, da própria «elevação» na sua «Hora». Na realidade, é mais do que um pedido e a declaração de plena disponibilidade a entrar, livre e generosamente, no desígnio de Deus Pai que se cumpre no ser entregue e na morte e ressurreição. Esta «Hora» começou com a traição de Judas (cf. Jo 13, 31) e culminará com a elevação de Jesus ressuscitado para o Pai (cf. Jo 20, 17). A saída de Judas do cenáculo é comentada por Jesus com as seguintes palavras: «Agora o Filho do homem foi glorificado, e Deus foi glorificado nele» (Jo 13, 31). Não é por acaso que Ele começa a prece sacerdotal, dizendo: «Pai, chegou a hora: glorifica o teu Filho, para que o Filho te glorifique» (Jo 17, 1). A glorificação que Jesus pede para Si mesmo, como Sumo Sacerdote, é o ingresso na obediência mais plena ao Pai, uma obediência que o leva à sua condição filial mais completa: «E agora, Pai, glorifica-me diante de ti com aquela glória que Eu tinha em Ti antes da criação do mundo» (Jo 17, 5). Esta disponibilidade e este pedido são o primeiro acto do novo sacerdócio de Jesus, que é um doar-se totalmente na cruz, e precisamente na cruz — o supremo gesto de amor — Ele é glorificado, porque o amor é a glória autêntica, a glória divina.
O segundo momento desta oração é a intercessão que Jesus faz pelos seus discípulos, que permaneceram com Ele. Eles são aqueles sobre os quais Jesus pode dizer ao Pai: «Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus e Tu deste-mos, e eles observaram a tua palavra» (Jo 17, 6). «Manifestar o nome de Deus aos homens» é a realização de uma nova presença do Pai no meio do povo, da humanidade. Este «manifestar» não é só uma palavra, mas é realidadeem Jesus; Deus está connosco, e assim o nome — a sua presença connosco, o ser um de nós — «realizou-se». Portanto, esta manifestação realiza-se na encarnação do Verbo. Em Jesus, Deus entra na carne humana, faz-se próximo de modo único e novo. E esta presença tem o seu ápice no sacrifício que Jesus realiza na sua Páscoa de morte e ressurreição.
No centro desta prece de intercessão e de expiação a favor dos discípulos encontra-se o pedido de consagração; Jesus diz ao Pai: «Eles não são do mundo, como Eu não sou do mundo. Consagra-os na verdade. A tua palavra é verdade. Como Tu me mandaste para o mundo, também Eu os enviei para o mundo; por eles consagro-me a mim mesmo, a fim de que também eles sejam consagrados na verdade» (Jo 17, 16-19). Pergunto: o que significa «consagrar» neste caso? Antes de tudo, é necessário dizer que só Deus é propriamente «Consagrado», ou «Santo». Portanto, consagrar quer dizer transferir uma realidade — uma pessoa ou coisa — para a propriedade de Deus. E nisto estão presentes dois aspectos complementares: por um lado, tirar das coisas comuns, segregar, «pôr de lado» do ambiente da vida pessoal do homem, para ser doado totalmente a Deus; e por outro, esta segregação, esta transferência para a esfera de Deus tem o significado próprio de «envio», de missão: precisamente porque é doada a Deus, a realidade, a pessoa consagrada existe «para» os outros, é doada ao próximo. Doar a Deus quer dizer não existir mais para si mesmo, mas para todos. É consagrado aquele que, como Jesus, é segregado do mundo e posto à parte para Deus, em vista de uma tarefa e precisamente por isso está plenamente à disposição de todos. Para os discípulos, consistirá em continuar a missão de Jesus, ser doados a Deus para estarem assim em missão para todos. Na noite de Páscoa, o Ressuscitado, aparecendo aos seus discípulos, dir-lhes-á: «A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio» (Jo 20, 21).
O terceiro acto desta oração sacerdotal amplia o olhar até ao fim dos tempos. Nela, Jesus dirige-se ao Pai para interceder a favor de todos aqueles que forem levados à fé mediante a missão inaugurada pelos apóstolos e continuada na história: «Não oro só por estes, mas também por aqueles que acreditarem em mim mediante a sua palavra». Jesus reza pela Igreja de todos os tempos, ora também por nós (cf. Jo17, 20). O Catecismo da Igreja Católica comenta: «Jesus cumpriu perfeitamente a obra do Pai e a sua oração, assim como o seu sacrifício se estende até à consumação dos tempos. A oração da “Hora” preenche os últimos tempos e leva-os à sua consumação» (n. 2.749).
O pedido central da oração sacerdotal de Jesus, dedicada aos seus discípulos de todos os tempos, é o da unidade futura de quantos acreditarem nele. Esta unidade não é um produto mundano. Ela provém exclusivamente da unidade divina e chega até nós do Pai, mediante o Filho e no Espírito Santo. Jesus invoca um dom que provém do Céu, e que tem o seu efeito — real e perceptível — na terra. Ele reza «a fim de que todos sejam um só: assim como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste» (Jo 17, 21). A unidade dos cristãos, por um lado, é uma realidade secreta que está no coração das pessoas crentes. Mas, ao mesmo tempo, ela deve aparecer com toda a clareza na história, deve aparecer para que o mundo creia, tem uma finalidade muito prática e concreta, deve aparecer para que todos sejam realmente um só. A unidade dos discípulos futuros, sendo unidade com Jesus — que o Pai enviou ao mundo — é também a fonte originária da eficácia da missão cristã no mundo.
«Podemos dizer que na oração sacerdotal de Jesus se cumpre a instituição da Igreja… Precisamente aqui, no acto da última Ceia, Jesus cria a Igreja. Porque, o que é a Igreja, a não ser a comunidade dos discípulos que, mediante a fé em Jesus Cristo como enviado do Pai, recebe a sua unidade e é envolvida na missão de Jesus de salvar o mundo, conduzindo-o ao conhecimento de Deus? Aqui encontramos realmente uma verdadeira definição da Igreja. A Igreja nasce da oração de Jesus. E esta prece não é apenas palavra: é o gesto em que Ele se “consagra” a Si mesmo, ou seja, se “sacrifica” pela vida do mundo» (cf. Jesus de Nazaré, II, 117 s.).
Jesus reza a fim de que os seus discípulos sejam um só. Em virtude desta unidade, recebida e conservada, a Igreja pode caminhar «no mundo» sem ser «do mundo» (cf. Jo 17, 16) e viver a missão que lhe foi confiada para que o mundo creia no Filho e no Pai que O enviou. A Igreja torna-se, então, o lugar em que continua a própria missão de Cristo: conduzir o «mundo» para fora da alienação do homem em relação a Deus e a si mesmo, para fora do pecado, a fim de que ele volte a ser o mundo de Deus.
Caros irmãos e irmãs, apreendemos alguns elementos da grande riqueza da oração sacerdotal de Jesus, que vos convido a ler e meditar, para que nos oriente no diálogo com o Senhor, a fim de que nos ensine a rezar. Então, também nós na nossa oração peçamos a Deus que nos ajude a entrar, de modo mais completo, no desígnio que tem para cada um de nós; peçamos-lhe para ser «consagrados» a Ele, para lhe pertencer cada vez mais, para poder amar sempre mais os outros, próximos e distantes; peçamos-lhe para sermos capazes de abrir a nossa oração às dimensões do mundo, sem a limitar ao pedido de ajuda para os nossos problemas, mas recordando diante do Senhor o nosso próximo, apreendendo a beleza de interceder pelos outros; peçamos-lhe o dom da unidade visível entre todos os crentes em Cristo — invocámo-lo com vigor nesta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos — orando para estarmos sempre prontos a explicar a razão da nossa esperança a quantos no-la perguntarem (cf. 1 Pd 3, 15). Obrigado!

Estado Laico

Não é de hoje, e com persistência, as grandes empresas jornalísticas de nosso País, sempre que atingem amplo espaço público questões pertinentes à defesa da vida, ou à reflexão sobre a família, vociferam, dogmáticas, em defesa do que chamam: o Estado laico

Querem estabelecer que a República laica não tolera o tratamento de assuntos religiosos, confinados, então, à consciência individual de cada uma das pessoas, e inaceitáveis à difusão pública.

Isso nada tem a ver com República laica. Conduz-nos a gritante erro essa imposição do pensar, “politicamente correto”, a que nos submete o stablishment midiático.

O consagrado Professor de Direito Constitucional José Gomes Canotilho, em sua obra Direito Constitucional – 4ª edição – a partir do estudo dos parâmetros republicanos da Constituição portuguesa de 1911, que encerrou o sistema monárquico, é correto no ensinar que:


2. República laica
Se no tocante à estrutura organizatória da República a Constituição de 1911 não fez senão recolher as idéias do liberalismo radical (e nem todas), quanto a outros domínios tentou plasmar positivamente, em alguns artigos, o seu programa político. Um dos pontos desse programa era a defesa de república laica e democrática. O laicismo, produto ainda de uma visão individualista e racionalista, desdobrava-se em vários postulados republicanos: separação do Estado e da Igreja, igualdade de cultos, liberdade de culto, laicização do ensino, manutenção da legislação referente à extinção das ordens religiosas (cfr. art. 3º, nºs 4 a 12). O programa republicano era um programa racional e progressista: no fundo, tratava-se de consagrar constitucionalmente uma espécie de “pluralismo denominacional”, ou seja, a presença na comunidade, com iguais direitos formais de um número indefinido de colectividades religiosas, não estando nenhuma delas tituladas para desfrutar de um apoio estadual  positivo.”  (obra citada – pg. 247/8, grifei)


Portanto, Estado laico não é Estado ateu. Não é Estado que proíba sejam abordados temas religiosos no cotidiano das pessoas que nele vivem.

O Estado laico, justo porque democrático e plural, é o que garante a convivência pacífica e respeitosa dos que professam os mais variados credos, inclusive os que credo não tem.

O Estado laico, insisto, respeita as convicções religiosas e sua livre expressão.

O mesmo emérito Professor José Gomes Canotilho, já agora analisando  o tema à luz dos preceitos da Constituição portuguesa de 1976, demonstra como o texto moderno enfatiza a ampla liberdade de manifestação religiosa. De se ler:


2.2. A deslocação constitucional da “República laica

1.      A “laicidade da República”, a “República laica”, é também uma das noções ligadas à tradição republicana. Para além dos “momentos emocionais” que o laicismo republicano transporta, pode dizer-se que ele assenta principalmente em três princípios:secularização do poder político,neutralidade do Estado perante as Igrejas, liberdade de consciência, religião e culto. Todavia, a Constituição de 1976, embora herdando alguns dos princípios republicanos de 1910 (cfr. supra, Parte II, Cap. 3, E, I), não adjectivou a República Portuguesa como “República laica” e deslocou os problemas fundamentais do “laicismo” para o âmbito dos direitos fundamentais. Para além de evitar a reposição da “questão do clericalismo”, a Constituição considerou que, verdadeiramente, o que estava em causa eram problemas relativos a direitos, liberdades e garantias: liberdade de consciência, de religião e de culto, proibição de discriminação por motivos de convicções ou práticas religiosas, liberdade de organização e existência das igrejas e comunidades religiosas, liberdade de ensino da religião e o princípio da igualdade perante o Estado de todas as religiões (cfr. art. 41º).” (obra citada – pg. 410/411, grifei)
Nossa Constituição partilha dessa mesma diretriz, visto que, expressamente, no inciso VI, do artigo 5º, afirma que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

      
O inciso VII também assegura “a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”, e o inciso VIII não permite, seja privada, qualquer pessoa, de direitos “por motivo de crença religiosa”.

Todo esse quadro normativo – é óbvio – não enclausura religiosos, e não religiosos, no espaço único de sua privacidade.

Religiosos, e não religiosos, com as respectivas crenças, ou sem qualquer crença, têm o amplo direito de expor essas suas variadas concepções de viver na cotidiana formação da democrática sociedade. Democrática porque acolhe, incentiva e resguarda a pluralidade dos posicionamentos, e democrática, também, porque compreende ser infindável a interação humana, enquanto vida houver.

Eis preciosos ensinamentos do padre Mario de França Miranda, como expostos no seu livro: “Igreja e Sociedade”:
“Hoje já se reconhece que as religiões têm algo a oferecer à sociedade civil. São elas quedenunciam a marginalização a que são condenados os mais pobres, bem como as injustiças de políticas econômicas. São elas que oferecem uma esperança que sustenta e mobiliza os mais fracos. São elas que, livres de um dogmatismo doutrinário e impositivo, oferecem motivações e intuições substantivas ( e não apenas funcionais ) para as questões sujeitas ao debate público. São elas que, numa sociedade neoliberal e prisioneira de um racionalidade funcional em busca de resultados. Desmascaram a frieza burocrática e tecnocrática apontando os efeitos devastadores de certas decisões. São elas que, para além das macrossoluções milagrosas, apontam para a responsabilidade de cada um e para a imprescindível rejeição de um individualismo cômodo,sem as quais a ética na vida pública ou o problema ecológico não serão solucionados. Aqui a sabedoria religiosa talvez possa ser mais eficaz do que muitos discursos dos tecnocratas.
( pg. 139-40, grifos do autor e meu ).

 E, em síntese, correta, prossegue Mario de França Miranda:
“Porque a sociedade civil pode se tornar presa de ideologias totalitárias, prisioneira da lógica de resultados, ou do sistema econômico dominante, ela necessita de uma instância que a transcenda e a questione, que a desestabilize beneficamente e que a faça progredir.”
( pg. 141, grifos do autor e meu ).

Assuntos de tamanha relevância pedem tratamento cuidadoso e responsável, pena comprometer-se a importante missão não só de informar, mas de formar a opinião pública.

Corrida de rua vai marcar contagem regressiva para a JMJ Rio 2013


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Uma corrida de rua que vai acontecer no dia 22 de julho  em todas as dioceses do Brasil marcando a largada para a contagem regressiva de uma ano para a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013. Esse é o Bote Fé na Vida, uma iniciativa da Igreja do Brasil que visa integrar esportes e evangelização.

O lançamento do Bote Fé na Vida aconteceu neste domingo, 20 de maio, durante o Seminário Nacional de Jovens Comunicadores, em Brasília, com a participação do triatleta Diego Ciarrocchi, que vai participar da organização do evento. Ele lembrou que a corrida é a segunda atividade esportiva mais praticada no Brasil e anunciou que esse será apenas o primeiro evento, pois outros esportes também serão contemplados posteriormente.
As inscrições serão descentralizadas, feitas em cada diocese. Para as dioceses se organizarem, foi preparada uma sessão especial no site Jovens Conectados com várias dicas. (http://www.jovensconectados.org.br/bote-fe-vida)
BFvida

terça-feira, 22 de maio de 2012

Qual a corrente filosófica mais presente na educação brasileira? O marxismo,ora..


SÓ PODE DAR NISSO AÍ


Percival Puggina

Retorno ao fato porque é de riqueza extraordinária. Quem assistiu “Diários de Motocicleta” há de lembrar da passagem de Che Guevara pelo leprosário de San Pablo, atendido por uma congregação de religiosas no meio da selva, às margens do Amazonas. E há de lembrar que para os sinistros efeitos do filme, Che é apresentado como um santo abrasado de amor aos enfermos, e as irmãs como um perverso corpo de autoridades locais. Pura mistificação! Após duas semanas fazendo travessuras por ali enquanto superava uma crise de asma, Che bateu asas e foi fazer seu turismo revolucionário noutra freguesia. Quanto às irmãs, tão maltratadas pelo filme, continuaram, vida afora, enfiadas no mato, cuidando dos leprosos. Eis um bem torneado exemplo da diferença entre o verdadeiro amor ao próximo e a fantasia que empresta ao marxismo e ao comunismo o brilho vulgar das lantejoulas. Para o cineasta Walter Salles as religiosas eram megeras e Guevara um anjo de bondade.
Tem sido cada vez mais recorrente a publicação de artigos sobre Educação. Junto-me, então, a administradores, economistas, empresários, filósofos que enveredaram por essa pauta. Vou enfocá-la sob um aspecto que – não se surpreenda, leitor – tem muito a ver com o filme abordado acima. Aliás, são tão recorrentes as reflexões sobre o tema da Educação por profissionais das mais variadas especialidades que o fato já despertou reações adversas, contestando a concessão de espaço para quem não é do ramo. Os não educadores seriam meros palpiteiros. Mas convenhamos, é muito difícil ficar calado diante do que se vê.
Imagine um brasileiro que percorra do primeiro ao último degrau o sistema de ensino do país. Qual a corrente filosófica a que mais esteve submetido durante todo esse período, ainda que haja trocado de escola, de cidade e de Estado, em cada trecho do percurso escolar? Pois é. Marxismo. É análise marxista, crítica marxista, economia marxista, visão marxista da história, teologia da libertação, pedagogia do excluído e, como lastro para o materialismo histórico, camadas maciças de maledicência sobre o cristianismo.
Esse marxismo de polígrafo escolar tem a profundidade de um pires. Os que o lambem como tema de casa são incapazes de escrever uma lauda a respeito, mas saem do colégio prontinhos para ler a vida com os olhos que lhes deram. Assistem “Diários de Motocicleta” e concluem: no peito de Che batia um coração de mártir; já o coração daquelas beatas do leprosário não se abria nem com formão e martelo.
Só escapam dessa linha de montagem, que inclui a maioria dos estabelecimentos de ensino confessionais, os poucos estudantes que recebem em casa, ou de algum professor achado por pura sorte no meio do caminho, dose suficiente de antídoto para enfrentar o que lhes é ministrado ao longo dos cursos. Se mesmo nos bons educandários, deixa-se de lado a sã filosofia e se depreciam os grandes valores que inspiraram e inspiram a imensa maioria dos melhores vultos da humanidade, pergunto: como esperar das elites brasileiras que junto a esses estabelecimentos buscam formação, coisa melhor do que isso que vemos por aí? Quando parece muito normal que o governo contrate um grupo para escrever o passado (Walter Salles faria excelente documentário sobre a comissão), a temática educacional há de ser, sim, motivo de grave preocupação para quem reflita sobre o futuro do país.

Zero Hora20/05/2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Testemunho da fé é convite do Seminário de Jovens Comunicadores


Uma Missa nesse domingo, 20, presidida pelo presidente da Comissão Episcopal para a Juventude, Dom Eduardo Pinheiro, no Santuário Dom Bosco marcou o encerramento do Seminário para Jovens Comunicadores. Cerca de 200 jovens de todo o país participaram do evento, deste a última sexta-feira, em Brasília.
O seminário foi o resultado de uma parceria entre as comissões episcopais para a Juventude e Comunicação. Neste domingo, os trabalhos começaram com uma partilha, coordenada pela assessora da Comissão para a Comunicação, irmã Élide Fogolari. Os jovens destacaram um aspecto importante sobre o modo de comunicar a vida cristã no exercício profissional: o testemunho.
Tal aspecto foi ressaltado pelo padre Antonio Spadaro, que foi um dos assessores do Seminário. Ele afirmou que sentiu nos jovens brasileiros um profundo desejo de ajudar a Igreja na comunicação, e recomendou: “Estejam sempre com a cabeça, o coração e os olhos abertos. Evangelizamos melhor se escutamos as pessoas, o que elas pensam, assim como fez Jesus com no caminho de Emaús”. Ele também destacou que a caridade deve ser a marca da ação dos jovens comunicadores. “O importante é fazer poucas coisas, mas fazê-las bem”.
Em seguida, a Comissão para a Juventude apresentou as suas diversas atividades, como o projeto Jovens Conectados e os preparativos para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro em 2013. 
Dom Eduardo enfatizou que tais iniciativas são exemplo da opção afetiva e efetiva da Igreja pelos jovens. “A Jornada não pode ser um evento de uma semana. Mas a movimentação pré e pós Jornada são muito importantes na formação de jovens apaixonados, verdadeiros discípulos missionários de Jesus Cristo”.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Inscrições para a JMJ Brasil estarão abertas a partir de julho



Sede da próxima Jornada Mundial da Juventude, o Rio já está se organizando para receber milhares de peregrinos de todas as partes do mundo que desejam participar do evento.

E você deve estar se perguntando: quando e onde poderei fazer minha inscrição?

As inscrições poderão ser feitas a partir de julho de 2012, um ano antes da Jornada, exclusivamente através do portal oficial – www.rio2013.com.

Segundo Irmã M. Shaiane Machado, diretora do Setor de Inscrições, “todo peregrino que vem a jornada precisa fazer sua inscrição. O Setor de Inscrições é a porta de entrada à JMJ Rio 2013, é a partir dele que a JMJ acolhe a todos e dá as boas vindas”.

Faltando pouco mais de um ano para a Jornada, o Setor de Inscrições já está trabalhando arduamente para que a partir de julho de 2012, os peregrinos de todo o mundo possam inscrever-se.

“Não falamos muito em números, porque toda Jornada é uma surpresa, mas, baseando em dados de outras jornadas, prevemos 800 a 900 mil inscritos através do nosso portal” - ressaltou a religiosa.

Os jovens farão sua inscrição em grupos, tendo no máximo 50 peregrinos. Os grupos maiores que esse número deverão se dividir em grupos menores (até 50) e no momento da inscrição, fazer a vinculação entre eles.

O custo para as inscrições ainda não foram definidos. Os pacotes para os peregrinos deverão ser semelhantes aos das jornadas anteriores, com variações de preços para as alternativas que podem incluir: kit peregrino, alimentação, hospedagem e transporte.

Não perca tempo! O Rio espera você de braços abertos. Venha participar desse grande evento e mostrar a força da juventude de todo o mundo! O site oficial é http://www.rio2013.com/pt.

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por
Rádio Vaticano