Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Concílio Vaticano II deixou claro, ainda uma
vez, que nenhuma criatura pode ser comparada a Jesus, "Verbo Encarnado e
Redentor". Eis por que a função materna de Maria para com os homens, ou
seja, todos os aspectos de suas ações mediadoras, devem ser sempre e de
qualquer maneira computada entre as cooperações humanas suscitadas e
dependentes de Cristo. Dentro desta perspectiva é que se deve penetrar na
doutrina clara e segura sobre a mediação de Maria com relação às graças
concedidas por Deus aos homens.
O Cardeal Mercier, arcebispo de Malines, na
Bélgica, em 1921 com a colaboração teológica da universidade Lovaina e com o
apoio de todo o episcopado belga, de todo o clero e dos fiéis pediu e
conseguiu da Santa Sé a aprovação da Missa e do Ofício próprios em honra de
Maria medianeira de todas as graças, sendo sua festa celebrada a 31 de agosto.
Não se tratou de uma definição dogmática. Sobre este tema cumpre se
separe as manifestações devocionais exageradas sobre o poder da Mãe de
Deus e a elaboração de uma teologia segura e equilibrada, baseada nos dados da
revelação e na analogia profunda com o mistério da grande missão de Cristo
mediador.
Não se pode duvidar do poder de intercessão de
Maria e o fato ocorrido em Cana da Galileia é sumamente expresso. Em virtude
disto, Pio XII empregou a expressão "Onipotência Suplicante",
referindo-se ao valimento dela diante do trono de Deus e, já antes, São
Bernardo afirmara que jamais se ouviu dizer que alguém a tivesse invocado e não
fosse atendido.
Cristo, portanto, é nosso único Mediador (1 Tm
2,5-6) por ser causa principal, independente, autossuficiente e necessária da
Redenção e de todos os seus frutos, sendo que Sua mãe é medianeira como causa
secundária, dependente, não autossuficiente e hipoteticamente necessária para
se obter a salvação e os favores celestes decorrentes da mesma. Ela foi a
grande cooperadora na obra salvífica da humanidade, sendo, realmente, a Mãe
espiritual de todos os cristãos para os quais obtém os auxílios necessários no
processo soteriológico. É neste sentido que ela pode ser dita co-redentora. Sua
missão salvadora é indiscutível no plano redentor estabelecido por Deus. Esta é
a causa imediata das graças concedidas aos homens, sendo Maria a causa mediata,
instrumental. O Ser Supremo dela se serve para a efusão e produção dos
benefícios a favor dos seres racionais peregrinos neste mundo. Daí a confiança
dos batizados nesta Mãe admirável que nos deu o Salvador.
É mistério mariano inserido, não separado, do
mistério cristológico, eclesiológico. Fora desta realidade a dimensão que se
dar ao papel de Maria é equivocado, ultrapassando o ensinamento bíblico. Além
disto, não se pode referir a Nossa Senhora o papel que cabe ao Divino Espírito
Santo na obra santificadora dos epígonos de Jesus, Ele o Paráclito enviado para
consolidar a obra redentora. O direcionamento da devoção popular a Maria,
felizmente, tem esclarecido tudo isto, no que redunda em maior louvação àquela
que merece, de fato, todos os louvores e na qual se centram esperanças fundamentadas
dos que querem chegar ao céu. Redimir só cabe a Cristo, mas como Ele veio até
nós por Maria, esta se torna o caminho normal para se chegar a Ele e receber os
frutos que promanaram de Seu lado aberto lá no Gólgota.
Cumpre, além disto, relacionar o título de
Medianeira de todas as Graças ao dogma da Assunção de Maria aos céus, pois lá
ela continua seu papel maternal e de coredenção dos homens. Ela continua,
através dos tempos, empenhada em sustentar e promover o progresso e
santificação de todos os seus filhos espirituais, estando à sua espera na Casa
do Pai. Deste modo, a atuação de Maria abrange tudo que diz respeito ao ser do
cristão e do seu agir antes de chegar à beatitude definitiva na Cidade dos
Santos. É deste modo que uma esclarecida mariologia contribui para o progresso
espiritual de cada um, levando o cristão a confiar na proteção materna daquele
cujas virtudes devem ser imitadas como condição de se obter os favores que Ela
pode alcançar do Todo-Poderoso.
* Professor no Seminário de Mariana - MG
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