quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A psicologia do sentido da vida e a vivência do sofrimento


É, sem sombra de dúvidas, o sofrimento algo muito peculiar, e diria, até, inevitável à existência humana.  É com certeza um tema bastante rico e que merece uma boa reflexão.
A própria forma de se tratar o sofrimento, de enxergá-lo e de agir diante deste é também um ponto de partida bem interessante para uma discussão, tanto às alturas de uma filosofia rebuscada, como também sob um olhar clinico da Psicologia, ou ainda no cotidiano de uma conversa entre amigos. Muitas questões surgem aí, tanto à nível de metafísica, de pensamentos sofisticados, como até mesmo do mais cotidiano pensar sobre o sofrimento diário de cada um.
Por que sofrer? É preciso sofrer? Fugir ou enfrentar o sofrimento? Existe sofrimento bom?
Para isso, não pretendo aqui apresentar algo de teor acadêmico, mas sim elucidar um pouco desta visão da Psicologia acerca do sofrimento humano. Não parto das minhas meras conclusões, mas trago pensamentos fundamentados a partir de uma abordagem psicológica chamada Logoterapia.
Sem delongas, trago de imediato a questão que Viktor Frankl , fundador da Logoterapia traz acerca do sofrimento e, em especial, acerca do sentido da vida. A Logoterapia pressupõe que a vida é potencialmente cheia de sentido, em qualquer que for a circunstância, sob a influência de qualquer que for a contingência. Frankl, então, traz à tona a centralidade na sua teoria da importância do sentido da vida. Para Frankl, diferentemente o que se dizia em outras teorias psicológicas de sua época, o homem é um ser movido pela vontade de sentido. Desse modo, para além do principio do prazer e do poder, o homem é um ser em busca de sentido.
Para alguns, pode até parecer um pouco estranho trazer duas coisas aparentemente tão opostas para um núcleo comum de discussão. Isso tudo parece até complicar mais ainda nossa reflexão, mas acompanhemos a proposta perspicaz de Viktor Frankl.
o sofrimento não priva nem nega ao homem a possibilidade de encontrar um sentido; porém, para encontrá-lo será decisiva a postura que se adota diante dessa situação inevitável (Frankl, 1989:155)
Faz-se, pois, o questionamento se afinal, em todas as circunstâncias, mesmo naquelas mais trágicas, a vida permaneceria passível de sentido.  Para isso, a Logoterapia pressupõe que a vida é potencialmente cheia de sentido, e não somente isso, Viktor Frankl credita, ainda, àquelas circunstâncias mais dolorosas, as mais nobres oportunidades de realização de sentido. Trata-se, o sofrer, de uma oportunidade que, muitas vezes, é a ultima de se descobrir e assumir o valor de sua vida, como valor único e irrepetível.
É, no entanto, necessário esclarecer que o que está sendo proposto não é uma psicologia a favor do sofrimento, mas, sim, uma psicologia que não fica inábil diante do sofrimento. O sofrer, então, quando em circunstancia inevitável, pode se tornar uma oportunidade ímpar de realização de sentido.

Abre-se, então, algumas questões: o sofrimento deve ser buscado ou evitado?
O que o sofrimento faz é salvar a alma da apatia, da rigidez mortal da alma. Enquanto sofremos continuamos a viver da alma. (FRANKL, 1989:153)
Com muita ousadia de minha parte, diria que Frankl responderia algo semelhante a isso:
Nenhum dos dois! O sofrimento não é para ser buscado, isso seria masoquismo. Por outro lado, o comportamento de fuga do sofrimento, o fazer a todo custo que o sofrimento seja afastado tem algo de caráter doentio. O sofrimento precisa ser acolhido, quando necessário, e isto não se trata de uma defesa de uma postura de conformismo e acomodação diante das coisas, ao contrário, é necessária uma postura ativa diante do sofrimento. É justamente diante deste sofrimento inevitável que o homem decide como se postar, se será uma postura passiva, pois há também no sofrimento essa dimensão do padecer e a possibilidade do deixar-se padecer, ou escolher por uma postura ativa e criativa. De certa forma, existe um caráter de escolha pessoal para a resposta dada às situações de sofrimento.
Ao aceitar esse desafio de sofrer com bravura, a vida recebe um sentido até o seu derradeiro instante, mantendo esse sentido literalmente até o fim. Em outras palavras, o sentido da vida é um sentido incondicional, por incluir até o sentido potencial do sofrimento inevitável. (FRANKL, 1991:102)
Rafael Rebouças Andrade
Estudante de Psicologia da Universidade Federal do Ceará
Referencias
FRANKL, V. E. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo: Quadrante, 1989
__________. Um sentido para vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida – SP: Santuário, 1989ª
__________. . Em busca de sentido. Petrópolis: Vozes, 1991
JOÃO PAULO II O sentido cristão do sofrimento humano. Carta Apostólica Salvifici Doloris. São Paulo: Ed. Paulinas, 1988

PEREIRA, Ivo Studart. A vontade de sentido na obra de Viktor Frankl. Psicol. USP,  São Paulo,  v. 18,  n. 1, março  2007
NEIR, Moreira; ADRIANO Holanda. Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345-356 2010
BELLO, Ângela Alles. (2006). Introdução à Fenomenologia. Bauru, SP: EDUSC

BRANDÃO,  Sílvia Regina.  O sentido do sofrimento como doação de si CEMOrOC-Feusp,  Notandum, 26, mai-ago 2011

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