No dia 5 de junho, o Ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, demitiu Dirceu Greco, responsável pela Campanha “Sou
feliz sendo prostituta”, deflagrada em homenagem ao Dia Internacional da
Prostituta, celebrado a 2 de junho. A campanha era composta por
panfletos e vídeos protagonizados por profissionais do sexo, com
mensagens como estas: “Não aceitar as pessoas como são é uma violência”;
"Um beijo para você, que usa camisinha"; “O sonho é que a sociedade nos
veja como cidadãs”, etc. Pressionado por amplos segmentos da sociedade –
sobretudo evangélicos – Padilha cedeu, prometendo que, enquanto fosse
ministro, jamais algo semelhante voltaria a aparecer. Naturalmente, nem
todos concordaram com a decisão. Dentre as vozes contrárias, está Cida
Vieira, presidente da Associação de Prostitutas de Minas Gerais: «Quem
faz o que gosta e como gosta, é feliz. Eu sou feliz na minha profissão».
As palavras da Cida revelam a inversão de valores a que chegou hoje a
humanidade. Ignoro os nomes dos autores da Campanha. Mas sei
perfeitamente o que se passa no coração das pessoas para me opor
peremptoriamente à tamanha falácia. O coração humano foi feito para a
felicidade, que não consiste na satisfação pura e simples de emoções,
paixões e instintos. Ela depende unicamente do amor. E o amor é sempre
uma conquista, não uma busca egoísta do prazer. Jamais os apelos da
carne poderão satisfazer às exigências do espírito.
Para o Papa Francisco, a cultura
assumida pela sociedade atual é narcisista, consumista e hedonista. Tudo
gira em torno e a partir dos interesses de quem tem o poder nas mãos –
nem que seja uma arma! Ninguém pode se opor! Segundo algumas fontes de
informação, 27 mulheres são estupradas, todos os dias, em São Paulo. «Se
Deus não existe, tudo é permitido», escreveu Dostoiévski (1821/1881).
Por quê? Porque seu lugar será imediatamente ocupado por outros deuses,
cuja consequência imediata é a perda dos princípios éticos e morais que
sustentam o ser humano na organização da sociedade. Talvez tenha sido
por isso que, mais ou menos na mesma época, outro escritor, Voltaire
(1694/1778) – ainda que muito diferente em assunto de fé – completou a
sentença com esta afirmação: «Se Deus não existisse, seria preciso
inventá-lo».
Não sei o que um filósofo tão
acentuadamente anticristão quisesse dizer com essas palavras. Talvez
apenas que a ideia de um Deus-juiz ajuda a manter a ordem na sociedade.
“Seria preciso inventá-lo” porque, sem ele, “ninguém é santo, ninguém é
forte”, como lembra a liturgia e, por isso mesmo, ao invés de construir,
o que o homem faria é destruir. Provam-no os crimes hediondos cometidos
pela humanidade no passado e, sobretudo, a corrupção e a violência que
se instalaram hoje numa sociedade que se julga evoluída, mas que sofre
dos mesmos males – se não maiores – dos que ela critica nos
antepassados.
Escrevi acima que Padilha voltou atrás
«pressionado por amplos segmentos da sociedade, sobretudo evangélicos».
Dou os parabéns a esses irmãos, por se oporem a uma campanha tão
humilhante, sintoma da degeneração a que pode chegar a sociedade. De uns
anos para cá, muitos deles assumiram várias das bandeiras que
antigamente estavam nas mãos dos católicos. Destes, não se sabe por
quais motivos, ultimamente, um número expressivo parece ter optado pelo
silêncio e pela penumbra. São cada vez mais raros os que saem às ruas
para defender os valores nos quais dizem acreditar. Esquecem que a força
dos maus é a fraqueza dos bons. Que as minorias avançam porque as
maiorias recuam. Apoquentam a religião, buscando-a apenas para resolver
problemas pessoais.
Desculpem-me: enveredei pelo caminho da
lamúria, que não leva a lugar nenhum! Ninguém muda sua opção de vida se
não é amado. Nada se consegue abandonar se não se recebe algo melhor. É o
que demonstra a santa festejada no dia 22 de julho, Maria Madalena. Sei
que são raros os exegetas que a identificam – como fazia São Gregório
Magno – com a prostituta santificada por Jesus: «Os numerosos pecados
que ela cometeu estão perdoados porque demonstrou muito amor!» (Lc
7,47). Mas, suponhamos que o Papa Gregório tenha razão: o olhar que
Jesus dirigiu a Maria a transformou de “madalena” em testemunha da
ressurreição. Esta é a felicidade que nada e ninguém poderá arrancar!
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Bispo de Dourados (MS)
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