quinta-feira, 2 de agosto de 2012

ISMOS MODERNOS: um calabouço sedutor!



Não temos dúvida de que os diversos ISMOS modernos, propagados hoje por tantas formas e ideologias, são desafios concretos para a promoção da cultura dos valores perenes. Alguns não são tão modernos assim, mas se revestem de novas seduções enganosas para as consciências e para a vida prática. Dentre esses ISMOS temos os “diversos relativismos” (Cultural, Epistemológico, Religioso e Moral).

Comecemos falando do “relativismo epistemológico”, ou seja, dessa quebra da sustentação dos valores absolutos (Princípios) válidos outrora como luzeiros seguros para se chegar à Verdade. É preciso dizer que o relativismo num primeiro momento não nega a verdade, mas diz que não a podemos conhecer. Então é válido o que está na moda do pensamento ou da ação. Isso gera um grande atrofiamento na capacidade racional do homem moderno porque o condiciona a viver segundo as ondas e agitações epocais.

A difusão desse tipo de relativismo em que põe em cheque a questão da Verdade Absoluta tem colaborado para a eliminação ou confusão no coração do homem, no que diz respeito ao cultivo e promoção das certezas fundamentais, tais como: A Lei eterna, ou seja, a Providência amorosa de Deus Criador na origem e sustentação do mundo; a Lei Natural (inscrita no coração do homem, sinalizada pela sua consciência que o impele a fazer o bem e evitar o mal), mas também de um Deus doador da fé, origem e destino último do homem (Imagem e Semelhança de Deus); sentido performativo e escatológico do corpo e dos valores humanos; as relações humanas e a solidariedade (gerando assim o que conhecemos como individualismo pessoal e coletivo).

Encontramos nessa via a obscuridade do historicismo que considera os valores da moral, do direito e da religião, limitados ao seu tempo histórico, julgando esses mesmo valores como não mais competentes para apresentarem uma pretensão de verdade no âmbito moderno, ainda que suas pretensões de validade ultrapassem o tempo. O historicismo ao pretender colocar fronteiras nos valores absolutos gera um subjetivismo cruel, um egocentrismo sedutor e, aparentemente, um aspecto positivo do “ser livre”.

Trata-se do juízo e da vivência do valor segundo o meu ângulo, a absolutização do meu ponto de vista daquilo que julgo ser a realidade ou que seja de fato. É aquela dimensão de que somente é verdade o que parte de mim ou das minhas categorias racionais, lógicas e científicas. Na verdade, traduz-se como sendo eu a preferência e a referência do que é valor e do que me causa prazer (Utilitarismo). Este prazer deve beneficiar sempre primeiramente a mim porque giro em torno de pretensões egoístas e de uma relação de idolatria comigo mesmo (Narcisismo). Parece que o “Código Cartesiano” se reveste de outra faceta: “Vale o que penso, sei e posso”. Vale o que é provado, o que é fruto de uma experiência científica (Empirismo). Os critérios não são mais o Bem Comum (Ética), a Igreja, A Lei divina gravada nos nossos corações. Isso se chega e se agrava com a negação da Verdade Absoluta, o segundo patamar do relativismo (verdades no plural, Pragmatismo).

Para melhor enquadrar no contexto atual essa negação da Verdade Absoluta temos que situá-la dentro de dois territórios minados: O Ceticismo religioso (a negação de Deus e de outras dimensões da fé, tais como: a Instituição, a Moral cristã, a relação transcendente e a vida pós-morte). Depois o Psicologismo (Considera que as verdades mudam de acordo com o sujeito que as professa a partir de seus raciocínios e categorias psíquicas). Assim chegamos ao “fenomenismo” e logo temos que nos reportar ao axioma do filósofo Berkeley: “esse est percipi” (o ser consiste em ser pensado).

Não entrarei aqui nas questões de definições do SER segundo os diversos conceitos da Filosofia, mas me situarei na questão da essência, ou seja, daquela realidade que vai além da experiência física, material e contemplada com os elementos naturais. Quero falar aqui da “questão da percepção” fomentada no contexto contemporâneo, ou seja, a redução da realidade a fenômenos e “todo conhecimento ao conhecimento dos mesmos.” Se não conheço “a coisa em si” (na sua essência) então isto ou aquilo não pode ser digno de crédito, deve ser desprezado, não tem consistência racional. Acaba sendo uma necessidade da subjetividade dos mais ignorantes por precisarem de estímulos supersticiosos para suas conquistas.

O velho Kant chegou a dizer que só podemos conhecer os fenômenos e que o conhecimento se dá por sensibilidade. Ciência para Kant é somente o que é físico, por isso metafísica não é Ciência. Desfazendo-se da metafísica e questionado pelo empirismo de Davi Hume, sobre a Lei Natural, Kant diz que “eu posso pensar Deus”.  No entanto, o Deus pensado nas categorias de Kant está longe daquele Deus que a razão, iluminada pela fé, apreende, embora Deus se utilize da racionalidade e da sensibilidade para a manifestação do Seu amor. Portanto, este Deus existe, mesmo que essas categorias se recusem a aceitá-lo e a conhecê-lo.

Sem a fé, essas categorias ficam ainda a uma distância longínqua da verdadeira realidade. Dizer que só vale o que a minha sensibilidade pode alcançar é um calabouço mortal para a racionalidade do homem. Pondo em descrédito a existência de Deus, comprometo a existência também do corpo e da alma. Logo chego ao moderno Nihilismo. “Visto que tudo é condicionado às nossas sensações, e que, por conseguinte, o espírito jamais pode atingir as Coisas em Si: corpo, alma, eu pessoal, substância, absoluto, etc., não passam de representações subjetivas. Isto é o nihilismo. Em tais condições nada resta ao homem que esperar, nenhum fim a atingir. Sua vida torna-se vazia e carente totalmente de sentido.”

Minha reflexão sobre os ISMOS modernos sinaliza ser um assunto denso, o que pretendo continuar em ocasiões posteriores. A ausência do “sentido de vida”, destaco como uma das importantes causas e consequências dos ISMOS no homem contemporâneo. Assim, podemos compreender um pouco dos motivos pelos quais, têm levado o Papa Bento XVI, a falar tanto de relativismo. Seus esforços têm sido na tentativa de esclarecer as consciências entorpecidas por tantas ideologias.

É preciso ajudar as pessoas a internalizarem os “princípios fundamentais” que não mudam com as circunstâncias e nem com a época. É indiscutível a dramaticidade dos problemas existenciais na humanidade. No entanto, não defendo uma estática conservação ou simplesmente a repetição mecânica dos valores fundamentais, tais como:  o Amor altruísta, a Fé, a Religião, a Bondade, a Solidariedade, a Moral, a Castidade, a Família, o Bem comum, a Ética cristã, a Paz, etc., mas uma vivência desses valores dentro de uma via segura que continua sendo a mais válida, O Evangelho da Vida.

O Evangelho nos apresenta a verdadeira identidade de Cristo conforme nos ensina a Igreja. Lamentamos que os preconceitos dogmáticos em muitos, deixem suas consciências esterilizadas e impedidas de conhecerem aquela realidade que está para além de todo e qualquer “Ismo”, a saber, a Salvação e a vida na Graça de Deus. “É o Senhor que liberta os prisioneiros. É o Senhor que dá aos cegos a luz dos olhos, do corpo, da mente e da alma” (cf. Sl 145/146, 8).

Antonio MarcosConsagrado na Comunidade de Vida Shalom  

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