
Não temos dúvida de
que os diversos ISMOS modernos, propagados hoje por tantas formas e ideologias,
são desafios concretos para a promoção da cultura dos valores perenes. Alguns
não são tão modernos assim, mas se revestem de novas seduções enganosas para as
consciências e para a vida prática. Dentre esses ISMOS temos os “diversos
relativismos” (Cultural, Epistemológico, Religioso e Moral).
Comecemos falando
do “relativismo epistemológico”, ou seja, dessa quebra da sustentação dos
valores absolutos (Princípios) válidos outrora como luzeiros seguros para se
chegar à Verdade. É preciso dizer que o relativismo num primeiro momento não
nega a verdade, mas diz que não a podemos conhecer. Então é válido o que está
na moda do pensamento ou da ação. Isso gera um grande atrofiamento na
capacidade racional do homem moderno porque o condiciona a viver segundo as
ondas e agitações epocais.
A difusão desse
tipo de relativismo em que põe em cheque a questão da Verdade Absoluta tem
colaborado para a eliminação ou confusão no coração do homem, no que diz
respeito ao cultivo e promoção das certezas fundamentais, tais como: A Lei
eterna, ou seja, a Providência amorosa de Deus Criador na origem e sustentação
do mundo; a Lei Natural (inscrita no coração do homem, sinalizada pela sua
consciência que o impele a fazer o bem e evitar o mal), mas também de um Deus
doador da fé, origem e destino último do homem (Imagem e Semelhança de Deus);
sentido performativo e escatológico do corpo e dos valores humanos; as relações
humanas e a solidariedade (gerando assim o que conhecemos como individualismo
pessoal e coletivo).
Encontramos nessa
via a obscuridade do historicismo que considera os valores da moral, do direito
e da religião, limitados ao seu tempo histórico, julgando esses mesmo valores
como não mais competentes para apresentarem uma pretensão de verdade no âmbito
moderno, ainda que suas pretensões de validade ultrapassem o tempo. O
historicismo ao pretender colocar fronteiras nos valores absolutos gera um
subjetivismo cruel, um egocentrismo sedutor e, aparentemente, um aspecto
positivo do “ser livre”.
Trata-se do juízo e
da vivência do valor segundo o meu ângulo, a absolutização do meu ponto de
vista daquilo que julgo ser a realidade ou que seja de fato. É aquela dimensão
de que somente é verdade o que parte de mim ou das minhas categorias racionais,
lógicas e científicas. Na verdade, traduz-se como sendo eu a preferência e a
referência do que é valor e do que me causa prazer (Utilitarismo). Este prazer
deve beneficiar sempre primeiramente a mim porque giro em torno de pretensões
egoístas e de uma relação de idolatria comigo mesmo (Narcisismo). Parece que o
“Código Cartesiano” se reveste de outra faceta: “Vale o que penso, sei e
posso”. Vale o que é provado, o que é fruto de uma experiência científica
(Empirismo). Os critérios não são mais o Bem Comum (Ética), a Igreja, A Lei
divina gravada nos nossos corações. Isso se chega e se agrava com a negação da
Verdade Absoluta, o segundo patamar do relativismo (verdades no plural,
Pragmatismo).
Para melhor
enquadrar no contexto atual essa negação da Verdade Absoluta temos que situá-la
dentro de dois territórios minados: O Ceticismo religioso (a negação de Deus e
de outras dimensões da fé, tais como: a Instituição, a Moral cristã, a relação
transcendente e a vida pós-morte). Depois o Psicologismo (Considera que as
verdades mudam de acordo com o sujeito que as professa a partir de seus
raciocínios e categorias psíquicas). Assim chegamos ao “fenomenismo” e logo temos
que nos reportar ao axioma do filósofo Berkeley: “esse est percipi” (o
ser consiste em ser pensado).
Não entrarei aqui
nas questões de definições do SER segundo os diversos conceitos da Filosofia,
mas me situarei na questão da essência, ou seja, daquela realidade que vai além
da experiência física, material e contemplada com os elementos naturais. Quero
falar aqui da “questão da percepção” fomentada no contexto contemporâneo, ou
seja, a redução da realidade a fenômenos e “todo conhecimento ao conhecimento dos
mesmos.” Se não conheço “a coisa em si” (na sua essência) então isto ou aquilo
não pode ser digno de crédito, deve ser desprezado, não tem consistência
racional. Acaba sendo uma necessidade da subjetividade dos mais ignorantes por
precisarem de estímulos supersticiosos para suas conquistas.
O velho Kant chegou
a dizer que só podemos conhecer os fenômenos e que o conhecimento se dá por
sensibilidade. Ciência para Kant é somente o que é físico, por isso metafísica
não é Ciência. Desfazendo-se da metafísica e questionado pelo empirismo de Davi
Hume, sobre a Lei Natural, Kant diz que “eu posso pensar Deus”. No
entanto, o Deus pensado nas categorias de Kant está longe daquele Deus que a
razão, iluminada pela fé, apreende, embora Deus se utilize da racionalidade e
da sensibilidade para a manifestação do Seu amor. Portanto, este Deus existe,
mesmo que essas categorias se recusem a aceitá-lo e a conhecê-lo.
Sem a fé, essas
categorias ficam ainda a uma distância longínqua da verdadeira realidade. Dizer
que só vale o que a minha sensibilidade pode alcançar é um calabouço mortal
para a racionalidade do homem. Pondo em descrédito a existência de Deus,
comprometo a existência também do corpo e da alma. Logo chego ao moderno
Nihilismo. “Visto que tudo é condicionado às nossas sensações, e que, por
conseguinte, o espírito jamais pode atingir as Coisas em Si: corpo, alma, eu
pessoal, substância, absoluto, etc., não passam de representações subjetivas.
Isto é o nihilismo. Em tais condições nada resta ao homem que esperar, nenhum
fim a atingir. Sua vida torna-se vazia e carente totalmente de sentido.”
Minha reflexão
sobre os ISMOS modernos sinaliza ser um assunto denso, o que pretendo continuar
em ocasiões posteriores. A ausência do “sentido de vida”, destaco como uma das
importantes causas e consequências dos ISMOS no homem contemporâneo. Assim,
podemos compreender um pouco dos motivos pelos quais, têm levado o Papa Bento
XVI, a falar tanto de relativismo. Seus esforços têm sido na tentativa de
esclarecer as consciências entorpecidas por tantas ideologias.
É preciso ajudar as
pessoas a internalizarem os “princípios fundamentais” que não mudam com as
circunstâncias e nem com a época. É indiscutível a dramaticidade dos problemas
existenciais na humanidade. No entanto, não defendo uma estática conservação ou
simplesmente a repetição mecânica dos valores fundamentais, tais como: o
Amor altruísta, a Fé, a Religião, a Bondade, a Solidariedade, a Moral, a
Castidade, a Família, o Bem comum, a Ética cristã, a Paz, etc., mas uma vivência
desses valores dentro de uma via segura que continua sendo a mais válida, O
Evangelho da Vida.
O Evangelho nos
apresenta a verdadeira identidade de Cristo conforme nos ensina a Igreja.
Lamentamos que os preconceitos dogmáticos em muitos, deixem suas consciências
esterilizadas e impedidas de conhecerem aquela realidade que está para além de
todo e qualquer “Ismo”, a saber, a Salvação e a vida na Graça de Deus. “É o
Senhor que liberta os prisioneiros. É o Senhor que dá aos cegos a luz dos
olhos, do corpo, da mente e da alma” (cf. Sl 145/146, 8).
Antonio MarcosConsagrado na Comunidade de Vida Shalom
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