Catequese de Dom Osvino, Arcebispo do
Ordinariado Militar do Brasil.
Vamos
iniciar a nossa conversa ouvindo o saudoso Papa, hoje Beato, João Paulo II:
“Tem-se instalado em muitos um sentimento religioso vago e pouco comprometido
com a vida... levam uma vida como se Deus não existisse” (23.11.95 no Congresso
Nacional da Igreja Italiana).
Vamos
ouvir também nosso Papa atual Bento XVI que, em maio de 2010, em Lisboa,
comentou: “Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com
as conseqüências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé,
considerando-se como um pressuposto óbvio da vida diária. Ora, tal pressuposto
não só deixou de existir, mas, frequentemente, acaba até negado. Enquanto, no
passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente
compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela
inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade
devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas”.
No
início deste ano, o Papa disse que “em grandes regiões do mundo a fé corre o
risco de se apagar como uma chama que já não encontra alimento. Estamos
enfrentando uma profunda crise de fé, uma perda do sentido religioso, que é o
maior desafio para a Igreja hoje”.
Constata-se
uma lassidão, um afrouxamento na fé, um cansaço da fé...
À
luz disto Bento XVI anuncia o Ano da fé (de 11/10/2012 a 30/11/2013) com o
objetivo de tirar o cansaço da fé e tornar Deus presente neste mundo.
A
fé é o elemento central no cristianismo.
O que é ter fé num mundo que não pergunta mais sobre a verdade das
coisas, mas pergunta sobre a utilidade das coisas. Este mundo sem Deus
quer viver dos fatos concretos, visíveis, da competência e da eficiência
pessoal... eu resolvo, eu decido....
A
pessoa de fé, no entanto, confia naquilo que não é feito por ela, que não é
visível, confia naquilo que é dado por um Outro. A fé dá um sentido profundo à
existência e este sentido não pode ser construído ou comprado pelo homem, mas é
recebido (dom). Na fé eu recebo o que não pensei e, por isso, tenho a
necessidade de ouvir, ouvir o que Deus revela, ouvir a Palavra de Deus.
“Escuta, Israel, o Senhor é o teu Deus, Ele é o único Deus” (canto litúrgico).
A
fé é iniciativa de Deus. É Ele quem, por primeiro, nos ama e nos busca. Nós O
encontramos definitivamente na sua Palavra. A fé é, portanto, um dom de Deus
que nos é dado como proposta na sua Palavra. A fé acontece quando (e apenas
quando) respondo à proposta de Deus. A fé tem dois aspectos interligados: a
confiança pessoal em Deus e a aceitação (obediência) ao que Ele revela. “A fé é
a atitude de quem está plantado no chão sólido da Palavra de Deus” (Bento XVI,
2005).
A
Palavra de Deus tomou forma humana, fez-se carne em Jesus. Nele Deus se
manifestou humanamente. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou aos nossos
pais. Nestes últimos dias, diz a carta aos Hebreus (1, 1-3a), falou-nos por
meio do seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas (e pelo qual
também criou o universo. Ele é o resplendor da glória do Pai, a expressão do
seu ser). Por isto nós cremos num Outro, num Tu, numa pessoa. O centro da nossa
fé é Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12,2). A fé cristã distingue-se da
opinião, da crença, da ideologia e também da religião. Ela tem a ver com a
Verdade e o Amor. O essencial na fé consiste na resposta confiante e no
abandono a Deus que veio até nós em Jesus Cristo. Creio em Deus que se
manifesta em Jesus Cristo.
A
fé consiste em seguir o que Jesus revela e no entregar-se livre e totalmente a
Deus oferecendo-se a Ele que se revela, com a submissão plena da inteligência e
da vontade dando voluntariamente assentimento à revelação que Deus nos fez (Dei
Verbum, 5).
A
fé cristã é uma atitude pessoal e livre, uma entrega amorosa e confiante a
Deus, a partir da revelação que é transmitida viva e humanamente por Jesus
Cristo, Deus presente. “Este é o meu Filho amado. Escutai-O” (Mc, 9,7).
O
Papa nos convoca para propormos a nossa fé à crise, ao cansaço da fé em nosso
meio. Por isto, Bento XVI propõe o Ano da fé (de 11/10/12 a 30/11/13):
1º
Para retomar a exata consciência da fé,
2º
Para reavivar, purificar, confirmar e professar a fé (Paulo VI – 1967).
3º
Para confirmar os conteúdos essenciais da fé para que sejam compreendidos e
aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em
condições novas e diversas do passado (Porta Fidei, 5).
Por
isso, o Ano da Fé será um momento de graça e de compromisso para uma conversão
a Deus, para fortalecer a nossa fé Nele e para anunciá-Lo com alegria ao homem
do nosso tempo, àqueles que estão perto de nós, nossos familiares, nossos
colegas....
Diante
da profunda crise de fé, diante de uma perda do sentido religioso que constitui
o maior desafio para a Igreja de hoje, a renovação da fé deve ser a prioridade
no compromisso de toda a Igreja nos nossos dias. ”Desejo que o Ano da fé possa
contribuir, com a colaboração cordial de todos os componentes do Povo de Deus,
para tornar Deus novamente presente neste mundo e para abrir os homens ao
acesso da fé, ao confiar-se àquele Deus que nos amou até o fim (Jo 13,1), em
Jesus Cristo crucificado e ressuscitado”. (Bento XVI, no lançamento do Ano da
Fé – Porta Fidei). E o Papa continua conclamando:
Mostremos
a todos a força e a beleza da féSeja um tempo de reflexão e de redescoberta da
fé na família e na ComunidadeSó acreditando é que a fé cresce e se
revigora. Ela torna-nos fecundos porque alarga o coração com a esperança e nos
leva à prática da caridade.Celebrar a fé confessando-a solenemente em variadas
formas e lugares (na família, na escola, no grupo, na
Comunidade)Descobrir novamente os conteúdos da fé.... refletir sobre o próprio
ato com que se crê e professá-los pessoal e comunitariamente. Até solenizá-los.
Rezar o Creio em família todos os diasou pelo menos aos domingos durante
o Ano da fé (de 11 de outubro 2012 a 30 de novembro de 2013).
Onde
encontrar a doutrina da fé?
Na
1ª parte do Catecismo da Igreja Católica (livrarias católicas)
No compêndio do
Catecismo da Igreja Católica (livrarias católicas)
No Youcat – Catecismo da
Igreja Católica para a juventude (editora Paulus).
Com
São Paulo podemos dizer a todos: Neste Ano da Fé cada um “busque a fé” (2 Tim
2,22). Ela obriga a tornar-se testemunha da presença do Ressuscitado.
O
Ano da Fé será um tempo de graça!
† Dom
Osvino José Both
Arcebispo
do Ordinariado Militar do Brasil
Fonte: Zenit.org
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