sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"Não se pode chamar bem ao mal ou mal ao bem!” – Dom Henrique comenta a entrevista de Francisco

Publicamos a seguir trechos dos comentários de dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju, publicados em seu facebook, sobre a reportagem do Papa Francisco concedida ao Padre Antonio Spadaro para a revista Civiltà Cattolica. 
Bispo

O Papa Francisco concedeu uma entrevista à Revista Civiltà Cattolica. Falou sobre muitos temas e, como é do seu costume, de modo bem informal, espontâneo. Nada do outro mundo, nada que escandalize.
Como já se tornou costume, assim como tudo em Bento XVI era distorcido para que cheirasse a museu, a intolerância e reacionarismo, agora, tudo quanto o Santo Padre Francisco fala é revolucionário, é uma verdadeira ruptura.
Tudo isto é uma percepção falsa e maldosa por parte de alguns e ingênua por parte de outros. É só ler as palavras do Papa: são serenas, claras, sinceras e belas. Fazem pensar e dão-nos uma bela visão do seu coração – desde que se as leia como foram ditas, sem preconceitos ou excessos…
Se as palavras do Santo Padre forem lidas sem preconceito nem olhar de desconfiança, o que ele quis expressar?
Que a Igreja vive num mundo ferido, de pessoas feridas… Um mundo amplamente descristianizado.
Qual o modo de abordar as pessoas num mundo assim? Partindo da situação delas, das dores delas, das mil perguntas que elas trazem no coração! É preciso falar-lhes de Cristo, epifania do amor salvífico de Deus.
Só depois, quando as pessoas compreendem o amor de Cristo, é que podem compreender as exigências desse amor! As exigências valem para todos, mas cada um corresponderá ao amor do Senhor segundo sua própria condição e sua história.
O Papa foi claro: não se pode chamar bem ao mal ou mal ao bem! Mas, é o modo de apresentar o Cristo: Ele é salvação! Que certamente exige uma resposta de conversão…
O Papa aqui não pensa em quem não deseja se converter ou se gloria no seu pecado, mas em quem se sente ferido e procura na treva a luz, na confusão a verdade! Não se trata de louvar os militantes homossexuais ou os que defendem que o matrimônio não seja indissolúvel. Trata-se de encontrar pessoas concretas, feridas, e anunciar-lhes Jesus, nosso Senhor! Isto os padres fazem todos os dias no confessionário; isso fez São João Maria Vianney! Isto fez Jesus, nosso Senhor!
É só isto que o Papa quis expressar. E este pensamento é o de sempre: foi o de João Paulo II e o de Bento XVI, foi o dos santos e dos papas de todos os tempos…
O Papa também não disse que a Igreja deve deixar de denunciar o aborto. Ele disse que é preciso contextualizar a questão do aborto!
Compreendamos: no cristianismo, a moral decorre do dogma. Primeiro cremos em Jesus, amamo-Lo, entramos em comunhão com Ele na Palavra, nos sacramentos santos, na oração… Tudo isto obriga-nos à conversão: a viver uma vida segundo Cristo! Isto aparece bem na palavra de São Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo (verdade de fé), procurai as coisas do Alto (consequência na vida)!”
O que o Santo Padre quis afirmar foi que a doutrina da Igreja sobre o aborto, o matrimônio e a sexualidade deve ser colocada no contexto do anúncio do Cristo como salvação enviada pelo Pai! Imagine uma Igreja que só fizesse falar sobre temas morais, sem anunciar Jesus… Como as pessoas que não conhecem o Senhor podem acolher Suas exigências? É o amor que torna as exigências aceitáveis. Do contrário, a Igreja não teria uma moral, mas um moralismo!
É somente isto que o Papa quis exprimir… E ele está correto, e não diz nada de novo! A Igreja continua e continuará contra o aborto, chamando a atenção para a desordem moral dos atos homossexuais e o absurdo da cultura gay. Continuará a insistir na indissolubilidade do matrimônio. Mas tudo isto, dentro de uma anúncio positivo: Deus enviou o Seu Filho ao mundo para salvá-lo! Convertamo-nos todos, deixemos a vida velha! Creiamos nesse Evangelho de salvação! – É o anúncio do próprio Jesus, do qual nem o Papa nem cristão algum pode abrir mão!

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