Desde que começou o trágico conflito na Síria, hoje com feições duma
guerra civil, a Santa Sé, de modo particular os Pontífices, já lançaram
numerosos apelos às partes em causa a fim de que encontrem vias de dialogo e
negociação, poupando assim luto e sofrimentos a esse povo, tão amado pela fé
cristã.
Muitas das reflexões de Bento XVI, que até ao último dia do seu
Pontificado acompanhou com atenção e angústia a evolução do conflito na Síria,
estão, infelizmente, a verificar-se. Os dados são eloquentes: mais de 100 mil
mortos segundo algumas fontes. Outras falam de 200 mil. De entre elas cerca de
sete a oito mil crianças terão perdido a vida; os deslocados e refugiados já
são mais de 4 milhões, de entre os quais um milhão de crianças. Entretanto,
aumentam seriamente os riscos de uma “contaminação” bélica a países e regiões
fronteiriços, em primeiro lugar o Líbano. Além disso, agora há a suspeita de
“um salto de qualidade” terrível na escalada de atrocidades: o uso de armas
químicas. E crescem os temores de uma possível intervenção internacional que
trazem à memória situações já vividas no Kosovo e no Iraque.
Bento XVI
Desde o início da guerra na Síria, há dois anos e meio, até Fevereiro de
2012, Bento XVI lançou numerosos e prementes apelos a favor do dialogo, da paz
e, em diversas ocasiões, chamou a atenção do mundo para os sofrimentos daquela
população.
A XII Assembleia sinodal, em Outubro passado, surpreendendo o mundo, tomou a decisão de enviar para a Síria uma Delegação dos Padres sinodais, delegação que, por razões práticas ligadas à guerra, acabou por não ter lugar.
Na Audiência geral de 7 de Novembro, Bento XVI fazia a seguinte reflexão acerca da Síria e sobre a Delegação que tinha pensado enviar àquele país:
“Continuo a seguir com particular apreensão a trágica situação de
violência na Síria, onde não cessa o troar das armas e aumenta de dia para dia
o número de vítimas e o terrível sofrimento das populações, de modo particular
de quanto tiveram que deixar as suas casas. Para manifestar a minha
solidariedade e a de toda a Igreja à população da Síria e a aproximação
espiritual às comunidades cristãs do país, era meu desejo enviar uma Delegação
de Padres Sinodais para Damasco.
Infelizmente, diversas circunstâncias e o
desenvolvimento da situação não permitiram que a iniciativa tivesse lugar nos
moldes previstos, e por isso, decidi confiar uma missão especial ao Cardeal
Robert Sarah, Presidente do Conselho Pontifício Cor Unum. De hoje até ao dia 10
deste mês de Novembro ele estará no Líbano, onde terá encontros com Pastores e
Fiéis das Igrejas que estão presentes na Síria; visitará alguns refugiados
provenientes daquele país e presidirá a uma reunião de coordenação das
instituições caritativas católicas, às quais a Santa Sé pediu um empenho
particular a favor das populações sírias, tanto dentro como fora do país.
Enquanto elevo as minhas orações a Deus, renovo o convite às partes em conflito
e a quantos têm a peito o bem da Síria para não pouparem esforços na procura da
paz e para continuarem, através do dialogo, os caminhos que levam a uma justa
convivência, com vista a uma adequada solução política do conflito.
Devemos
fazer todo o possível, porque um dia poderá ser demasiado tarde.”
Nesse mesmo dia o P. Federico Lombard, interpelado pelos jornalistas, confirmava que o cardeal Sarah levava como dom um milhão de dólares para apoiar refugiados, feridos e deslocados. Além disso, mais de cem mil dólares tinham já sido postos à disposição, em Maio de 2012, pelo Conselho Pontifício “Cor Unum” por decisão do Papa Ratzinguer.
Na sua Mensagem Urbi et Orbi para o Natal de 2012, o Papa Bento XVI referia-se assim ao drama da Síria:
“A paz germine para a população síria, profundamente ferida e dividida por um conflito que não poupa sequer as pessoas inermes e semeia vítimas inocentes.
Nesse mesmo dia o P. Federico Lombard, interpelado pelos jornalistas, confirmava que o cardeal Sarah levava como dom um milhão de dólares para apoiar refugiados, feridos e deslocados. Além disso, mais de cem mil dólares tinham já sido postos à disposição, em Maio de 2012, pelo Conselho Pontifício “Cor Unum” por decisão do Papa Ratzinguer.
Na sua Mensagem Urbi et Orbi para o Natal de 2012, o Papa Bento XVI referia-se assim ao drama da Síria:
“A paz germine para a população síria, profundamente ferida e dividida por um conflito que não poupa sequer as pessoas inermes e semeia vítimas inocentes.
Mais uma vez dirijo um
apelo a fim de que cesse o derrame de sangue, se facilitem os socorros aos
refugiados e aos deslocados e, através do diálogo, se procure uma solução
política para o conflito”.
Papa Francisco
Desde o dia da sua eleição, o Papa Francisco tem vindo a chamar a
atenção dos cristãos, das pessoas de boa vontade, dos Governos e da Comunidade
Internacional para a gravidade e a perigosidade da guerra na Síria,
sublinhando, de modo particular, a situação de sofrimento das populações civis,
não combatentes, sobretudo crianças.
- A 13 de Março passado, na sua Mensagem Urbi et Orbi, citando diversas
situações de violência no Médio Oriente, sublinhava:
“Paz (…), a fim de que cessem definitivamente todas as violências, e,
sobretudo, para a amada Síria, para as suas populações feridas pelo conflito e
para os numerosos refugiados, que aguardam ajuda e consolação. Quanto sangue já
foi derramado! E quantos sofrimentos deverão ainda ser infligidos para que se
chegue a encontrar uma solução política à crise?”
- A 5 de Junho passado, na audiência aos participantes no encontro de
coordenação entre os Organismos Caritativos Católicos que atuam no contexto da
crise na Síria, promovido pelo Conselho Pontifício Cor Unum, Papa Francisco
afirmou:
“Também a mim pessoalmente a sorte das populações sírias está
particularmente a peito. No dia de Páscoa pedi paz “sobretudo para a amada
Síria, para a sua população ferida pelo conflito, e para os numerosos
refugiados que esperam ajuda e consolação. Quanto sangue já foi derramado! E
quanto sofrimentos deverão ainda ser infligidos antes que se chegue a encontrar
uma solução política à crise?”.
Perante o perdurar das violências e abusos
renovo com força o meu apelo à paz. Nas últimas semanas a comunidade
internacional voltou a sublinhar a intenção de promover iniciativas concretas
para iniciar um diálogo frutuoso com o escopo de pôr fim à guerra. São
tentativas que devem ser apoiadas e que, se espera, possam conduzir à paz. A
Igreja sente-se chamada a dar o testemunho humilde, mas concreta e eficaz, da
caridade que aprendeu de Cristo, Bom Samaritano. Sabemos que onde alguém sofre,
Cristo está presente. Não podemos recuar-nos, precisamente perante situações de
tanta dor! A vossa presença na reunião de coordenação mostra a vontade de
continuar com fidelidade a preciosa obra de assistência humanitária, na Síria e
nos países vizinhos que, generosamente, hospedam quem foge da guerra. Que a
vossa ação seja pontual e coordenada, expressão daquela comunhão que é, ela
própria testemunho, como sugeriu o recente Sínodo sobre o Médio Oriente. À
Comunidade internacional, peço - ao lado da procura duma solução negociada do
conflito - que favoreça a ajuda humanitária para os refugiados e os deslocados
sírios, olhando, antes de mais para o bem da pessoa e a tutela da sua dignidade:
ajudar as populações sírias, independentemente da sua pertença étnica ou
religiosa, é a forma mais direta para dar um contributo à pacificação e à
edificação duma sociedade aberta a todas as suas diversas componentes. A isto
tende também o esforço da Santa Sé: construir um futuro de paz para a Síria, em
que todos possam viver livremente e exprimir-se na sua peculiaridade”.
- A 20 de Junho, no seu discurso à Reunião das Obras para a Ajuda às
Igrejas Orientais, o Papa Francisco quis recordar uma vez mais a Síria dizendo:
“Quero dirigir mais uma vez do mais profundo do meu coração um apelo aos
responsáveis dos povos e dos organismos internacionais, aos crentes de todas as
religiões e aos homens e mulheres de boa vontade a fim de que se ponha termo a
todas as dores, a todas as violências, a todas as discriminações religiosas,
culturais e sociais. O rencontro que está a semear morte deixe espaço ao
encontro e à reconciliação que traz a vida. A todos aqueles que estão no
sofrimento digo com força: não percais nunca a esperança! A Igreja está
convosco, vos acompanha e vos apoia! Peço-vos para que façam todo o possível a
fim de aliviar as graves necessidades das populações atingidas, de modo
particular aquelas sírias, a gente amada da Síria, os refugiados, cada vez mais
numerosos. Precisamente Santo Inácio de Antioquia pedia aos cristãos de Roma:
“recordai-vos nas vossas orações da Igreja da Síria…. Jesus Cristo há-de vigiar
sobre ela e a vossa caridade” (Carta aos Romanos IX,I). Também vos repito isto:
recordai-vos nas vossas orações da Igreja na Síria…. Jesus Cristo há-de vigiar
sobre ela e a vossa caridade.”
- Por fim, no Angelus do domingo, 25 de Agosto, o Papa disse:
“Com grande sofrimento e preocupação continuo a acompanhar a situação na
Síria. O aumento da violência numa guerra fratricida, com o multiplicar-se de
massacres e atos atrozes, que todos pudemos ver mesmo nas terríveis imagens
destes dias, me levam mais uma vez a elevar altamente a minha voz a fim de que
se ponha termo aos barulhos das armas. Não é o recontro que dá perspectivas de
esperança para resolver os problemas, mas sim a capacidade de encontro e de
dialogo. Do fundo do meu coração, quero manifestar a minha aproximação com a
oração a todas as vítimas deste conflito, a todos aqueles que sofrem, especialmente
as crianças, e convidar a ter sempre acesa a esperança de paz. Lanço um apelo à
Comunidade internacional a fim de que se mostre mais sensível em relação a esta
trágica situação e se empenhe plenamente para ajudar a amada Nação síria a
encontrar uma solução a esta guerra que semeia destruição e morte. Todos juntos
rezamos a Nossa Senhora Rainha da Paz.”
Foto: momenti da reunião, na Casa Santa Marta, no Vaticano, dos
Organismos Caritativos Católicos activos no contexto da Síria.
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