
O novo Prefeito da Congregação para a Doutrina da
Fé, o Arcebispo alemão Gerhard Müller, explicou que a teologia marxista da
libertação está equivocada, em uma entrevista concedida ao jornal vaticano
L’Osservatore Romano (LOR) e publicada em sua edição de 25 de julho em italiano.
Devido à sua importância para o contexto atual,
apresentamos duas das perguntas e suas respectivas respostas na íntegra. As
perguntas se referem à teologia da libertação, ao diálogo com os lefebvristas e
uma investigação às religiosas dos Estados Unidos: todos eles temas tratados
pelo dicastério agora chefiado pelo Arcebispo Müller.
LOR: Você tem muitos contatos com a América
Latina: como nasce esta relação?
Dom Müller: Estive com freqüência na América
Latina, no Peru, mas também em outros países. Em 1988 fui convidado a
participar de um seminário com Gustavo Gutiérrez. Fui com algumas reservas como
teólogo alemão, também porque conhecia bem as duas declarações da Congregação
para a Doutrina da Fé sobre a teologia da libertação publicadas em 1984 e 1986.
Mas pude constatar que é necessário distinguir
entre uma teologia da libertação equivocada e uma correta. Considero que toda
boa teologia deve estar relacionada à liberdade e à alegria dos filhos de Deus.
Indubitavelmente, entretanto, uma mistura da doutrina de uma auto-redenção
marxista e a salvação doada por Deus, deve ser rechaçada.
Por outro lado devemos perguntar-nos
sinceramente: como podemos falar do amor e da misericórdia de Deus ante o
sofrimento de tantas pessoas que não têm alimento, água ou assistência
sanitária, que não sabem como oferecer um futuro aos próprios filhos, onde
realmente falta a dignidade humana, onde os direitos humanos são ignorados
pelos poderosos?
Em última instância isto só é possível com a disposição
de estar com as pessoas, de aceitá-las como irmãos e irmãs, sem paternalismo da
outra parte. Se nos considerarmos a nós mesmos como família de Deus, então podemos contribuir a fazer que estas situações
indignas do homem mudem e sejam melhoradas.
Na Europa, logo depois da Segunda guerra mundial
e as ditaduras, construímos uma nova sociedade democrática também graças à
doutrina social católica. Como cristãos devemos sublinhar que do cristianismo é
que os valores de justiça, solidariedade e dignidade das pessoas foram
introduzidos nas nossas Constituições.
Eu mesmo venho de Mainz. Ali, ao início do século
XIX, houve um grande Bispo, o barão Wilhelm Emmanuel von Ketteler, que está nos
inícios da doutrina e das encíclicas sociais. Um menino católico de Mainz tem a paixãosocial no sangue e
por isso me sinto orgulhoso.
Foi certamente com miras a este horizonte do qual
vim aos países da América Latina. Durante 15 anos sempre passava dois ou três
meses por ano, vivendo em condições muito simples. Ao início para um cidadão da
Europa central isto implica um grande esforço. Mas quando se aprende a conhecer
as pessoas de forma pessoal e se vê como vivem, então a aceitação é possível.
Estive também na Africa do Sul com nosso Domspatzen, o famoso coral que o irmão
do Papa dirigiu por 30 anos.
Pude dar conferências em diversos seminários e
universidades, não só na América Latina, mas também na Europa e na América do
Norte. E isto foi o que pude experimentar: sente-se em casa em qualquer lugar,
onde há um altar, Cristo está presente, onde quer que esteja, faz-se parte da
grande família de Deus.
LOR: O que pensa das discussões com os
lefebvristas e com as religiosas americanas?
Dom Müller: Para o futuro da Igreja é importante superar os enfrentamentos ideológicos donde quer
que provenham. Existe uma única revelação de Deus em Jesus Cristo que foi
confiada à Igreja inteira. Por isso não são negociáveis em relação à Palavra de
Deus e não se pode acreditar e ao mesmo tempo não acreditar. Não se podem
pronunciar os três votos religiosos e logo não tomá-los a sério. Não posso
fazer referência à tradição da Igreja e logo aceitar apenas algumas das suas
partes.
O caminho da Igreja segue adiante e todos são
convidados a não fechar-se em um modo de pensar autorreferencial, mas a aceitar
a vida plena e a fé plena da Igreja. Para a Igreja Católica é totalmente evidente que o homem e a mulher têm igual valor:
já o relato da criação o disse e o confirma a ordem da salvação. O ser humano
não tem necessidade de emancipar-se nem de criar ou inventar-se a si mesmo. Ele
já está emancipado e liberado através da graça de Deus.
Muitas declarações se referem à admissão das
mulheres ao sacramento da Ordem ignorando um aspecto importante do ministério
sacerdotal. Ser sacerdote não significa criar uma posição. Não se pode
considerar o ministério sacerdotal como uma espécie de posição de poder terreno
e pensar que a emancipação se dará só quando todos possam ocupá-la.
A fé católica sabe que não formos nós quem
colocamos as condições para a admissão ao ministério sacerdotal e que atrás do
sacerdote estão sempre a vontade e a chamada de Cristo. Convido a renunciar às
polêmicas e à ideologia e a inundar-se na doutrina da Igreja.
Nos próprios Estados Unidos as religiosas e os
religiosos realizaram coisas extraordinárias para a Igreja, para a educação e a
formação dos jovens. Cristo necessita de jovens que prossigam este caminho e
que se identifiquem com a própria opção fundamental. O Concílio Vaticano II
afirmou coisas maravilhosas para a renovação da vida religiosa, como também
sobre a vocação comum à santidade. Importante reforçar a confiança recíproca em
lugar de brigar os uns contra os outros.
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