Professor Carriquiry, no
Meeting de Rímini: É diabólico insistir numa descontinuidade entre Bento XVI e
Francisco
Após a palestra do padre José
Maria “Pepe” Di Paola, sobre o trabalho de integração da população
marginalizada que lhe rendeu ameaças de morte por combater as drogas na favela
Villa 21, de Buenos Aires, o Meeting de Rímini para a Amizade entre os Povos
passou a palavra ao professor Guzmán Carriquiry, durante a conferência sobre a
encíclica Lumen Fidei.
O secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina afirmou
que “quando ouvimos o padre ‘Pepe’ falar da sua experiência nas favelas de
Buenos Aires, é como se víssemos o bispo Jorge Mário Bergoglio quando
compartilhava o pão com os pobres, junto com seus sacerdotes, naquelas mesmas
favelas”.
“No fundo”, disse o professor uruguaio, “é a mesma imagem que nós
vimos quando ele lavou os pés dos menores no centro para menores infratores;
quando ele visitou Lampedusa, a favela de Varginha, o hospital para dependentes
químicos no Rio de Janeiro...”. E enfatizou: “Não precisa de uma teologia da
libertação para isso. É suficiente o evangelho vivido, o abraço da caridade, o
testemunho comovido de si mesmo”.
Sobre a encíclica Lumen
Fidei, depois de elogiar o trabalho dos pontífices vindos de
contextos tão diferentes, com sensibilidades e estilos diversos, Carriquiry
avaliou como “obra do demônio, príncipe da mentira e da divisão, esse esforço
obsessivo em querer confrontar o bispo emérito de Roma e o seu sucessor”.
“Isso vale tanto para o desmedido apego nostálgico ao papa
anterior, que vira uma ‘nostalgia canalha’ quando se degenera em julgamentos
farisaicos sobre o papa atual, quanto para os elogios ao papa atual feitos para
denegrir os predecessores”.
O palestrante recordou ainda: “Apesar de que as favelas cresceram
muito nas últimas décadas, Buenos Aires é certamente muito mais do que isso”. E
complementa: “É uma enorme cidade cosmopolita, onde há raízes católicas
populares, mas que também é marcada por todas as realidades, estímulos e chagas
da cultura global”, onde existe um “norte e um sul” que apresentam “grandes
desafios pastorais”.
O secretário do Pontifício Conselho recordou também as palavras do
papa Bento XVI no voo de São Paulo a Aparecida, quando disse: “Tenho certeza,
pelo menos em parte, que aqui se decide o futuro da Igreja católica. Para mim,
isto sempre foi evidente”.
Sobre a situação atual da Igreja, Carriquiry comentou que “era
preciso libertar a fé das incrustações mundanas, para torná-la novamente
atraente”. E, citando um autor italiano, prosseguiu: “Os predecessores
começaram, sem dúvida, um progressivo desmantelamento desse aspecto realmente
pesado da cúria. João Paulo II preferia andar pelas ruas do mundo a ficar no
Vaticano. E Bento XVI disparou raios contra o carreirismo, o clericalismo, a
mundanidade, a divisão, as ambições de poder e a sujeira na Igreja. Agora,
Francisco realiza o que o seu predecessor pediu tantas vezes... E muito mais.
Tudo isso faz parte da ‘revolução evangélica’, que marca uma profunda mudança
do próprio modo de ser papa”.
Carriquiry finalizou propondo que a encíclica Lumen Fidei seja lida à
luz do pontificado do papa Francisco, das “joias” das suas homilias cotidianas,
da sua catequese e do “ato de sair como missionário” para compartilhar a luz da
fé “ad gentes”.
Fonte: Zenit.org
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