quarta-feira, 6 de março de 2013

Cardeal Agnelo: “Não vamos escolher um ‘Papa de transição’.”



Com seus 79 anos, Geraldo Majella Agnelo participará de seu segundo Conclave. Arcebispo emérito de São Salvador da Bahia, conheceu Joseph Ratzinger no Vaticano durante seu trabalho como secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Para ele não existem grandes “papáveis” na sucessão de Bento XVI. “Os candidatos estão todos nivelados”, assegurou.
 
Como será a convivência de dois Papas no Vaticano?
Nos primeiros meses o Papa emérito estará em Castel Gandolfo, separado. Depois ele se trasladará dentro do Vaticano, mas não vai interferir em nada no exercício do ministério petrino do novo Papa. Ele se colocou debaixo do pontífice que vem com uma atitude de respeito e de obediência, como se fosse um cardeal. Fez esse gesto de submissão não só para que fique registrado, mas porque realmente crê nisso. Isto demonstra o mistério da Igreja, que não se pode simplesmente explicar com nossas categorias. O Papa não é alguém que está no poder, mas alguém que está diante de Deus, preocupado em levar adiante seu ministério de vigário de Cristo.
Parece recorrente a ideia do chamado “Papa de transição”, como o senhor vê essa possibilidade?
Sempre que um Papa governa durante um longo período, então se pensa: melhor agora que haja um “Papa de transição”. Muitas vezes a realidade contradisse completamente esta suposta transição. Nós vamos escolher um “Papa de transição”.
E Bento XVI, foi um “Papa de transição”?
Bento XVI não foi um “Papa de transição”. Em sua eleição havia, entre todos os cardeais, uma pessoa com um maior tempo de exercício em uma das congregações mais importantes do Vaticano, como a para a Doutrina da Fé. Isso fez com que ele conhecesse bem a Igreja, sua vida, suas dificuldades e também as alegrias. Isso instintivamente os cardeais eleitores perceberam e, por isso, a eleição caiu sobre ele. Agora não temos algum que se sobressaia. Existem personagens de vários segmentos da Igreja no mundo e que têm características que chamam a atenção. Estão todos mais ou menos nivelados.
Nestes dias ouvem-se diversas vozes sobre como deveria ser o próximo vigário de Cristo, “conservador” ou “progressista”. O que o senhor opina?
O Papa deve ser fiel ao Evangelho. Ele não pode dizer: de agora em diante mudamos o que está no evangelho de Jesus Cristo. Por exemplo, em matéria de aborto, as coisas não vão mudar. Por mais que o mundo inteiro fale, não acontecerá. Não ocorrerá que se permitam novas uniões sacramentais após o divórcio. Não se trata de conservadorismo. Nossa posição são os mandamentos da lei de Deus, com eles damos uma resposta ao mundo de hoje. É importante que o Papa se faça presente para chamar a atenção, seja da Igreja ou entre os homens de boa vontade, para oferecer uma reflexão sobre diversos assuntos. Deve ser um pontífice que esteja atento, para suscitar um debate na própria humanidade.
Já pensou em quem votar ou em um perfil genérico?
O Papa é o bom pastor. As ovelhas o conhecem e ele conhece as suas ovelhas. Por isso é importante que ele seja um grande pastor para todos e também para falar aos homens de boa vontade. Considero alguns poucos (cardeais) que se sobressaem, de todas as regiões. Tenho mais ou menos cinco pessoas em mente. No passado tive muitos contatos com bispos, por meu trabalho no Vaticano, então conheço vários cardeais. Mas não estou decidido. Pensei em alguns candidatos que me chamam a atenção, algumas pessoas com qualidade para poder assumir a missão.
A procedência geográfica terá algum peso?
Ninguém vai apresentar um candidato, não acontece deste modo. A procedência geográfica terá peso mínimo. Não se diz: agora precisamos de um Papa que venha da África ou da Ásia ou de outra parte do mundo. Isso não ocorrerá. Tampouco serão formados blocos por país, de cardeais que vão votar em alguém em especial.
O que espera do Conclave?
No primeiro escrutínio haverá uma dispersão muito grande de votos. Alguns vão aparecer com mais sufrágios, mas isso não quer dizer que seja o indicado. Na segunda votação veremos mais claramente quem pude emergir com mais consenso. Até que se chegue aos dois terços dos votos, que permitirá identificar o eleito. Durante o Conclave não teremos contato com o exterior. Por isso se chama assim, Con-clave, quer dizer Con-chave. Estaremos trancados aí dentro e não teremos contato absolutamente nem com meios de comunicação, nem com telefone ou internet, nada de nada. A Igreja é um mistério, a partir do ponto de vista espiritual. Não é um reino deste mundo, está no mundo sem ser do mundo. Jesus Cristo é a cabeça desse corpo que é a Igreja. De modo que não se trata de uma disputa de lugares, mas de eleger quem vai servir.
Fonte: Ecclesia Una

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