Com
seus 79 anos, Geraldo Majella Agnelo participará de seu segundo
Conclave. Arcebispo emérito de São Salvador da Bahia, conheceu Joseph
Ratzinger no Vaticano durante seu trabalho como secretário da
Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Para ele não existem grandes “papáveis” na sucessão de Bento XVI. “Os candidatos estão todos nivelados”, assegurou.
Como será a convivência de dois Papas no Vaticano?
Nos
primeiros meses o Papa emérito estará em Castel Gandolfo, separado.
Depois ele se trasladará dentro do Vaticano, mas não vai interferir em
nada no exercício do ministério petrino do novo Papa. Ele se colocou
debaixo do pontífice que vem com uma atitude de respeito e de
obediência, como se fosse um cardeal. Fez esse gesto de submissão não só
para que fique registrado, mas porque realmente crê nisso. Isto
demonstra o mistério da Igreja, que não se pode simplesmente explicar
com nossas categorias. O Papa não é alguém que está no poder, mas alguém
que está diante de Deus, preocupado em levar adiante seu ministério de
vigário de Cristo.
Parece recorrente a ideia do chamado “Papa de transição”, como o senhor vê essa possibilidade?
Sempre
que um Papa governa durante um longo período, então se pensa: melhor
agora que haja um “Papa de transição”. Muitas vezes a realidade
contradisse completamente esta suposta transição. Nós vamos escolher um
“Papa de transição”.
E Bento XVI, foi um “Papa de transição”?
Bento
XVI não foi um “Papa de transição”. Em sua eleição havia, entre todos
os cardeais, uma pessoa com um maior tempo de exercício em uma das
congregações mais importantes do Vaticano, como a para a Doutrina da Fé.
Isso fez com que ele conhecesse bem a Igreja, sua vida, suas
dificuldades e também as alegrias. Isso instintivamente os cardeais
eleitores perceberam e, por isso, a eleição caiu sobre ele. Agora não
temos algum que se sobressaia. Existem personagens de vários segmentos
da Igreja no mundo e que têm características que chamam a atenção. Estão
todos mais ou menos nivelados.
Nestes
dias ouvem-se diversas vozes sobre como deveria ser o próximo vigário
de Cristo, “conservador” ou “progressista”. O que o senhor opina?
O
Papa deve ser fiel ao Evangelho. Ele não pode dizer: de agora em diante
mudamos o que está no evangelho de Jesus Cristo. Por exemplo, em
matéria de aborto, as coisas não vão mudar. Por mais que o mundo inteiro
fale, não acontecerá. Não ocorrerá que se permitam novas uniões
sacramentais após o divórcio. Não se trata de conservadorismo. Nossa
posição são os mandamentos da lei de Deus, com eles damos uma resposta
ao mundo de hoje. É importante que o Papa se faça presente para chamar a
atenção, seja da Igreja ou entre os homens de boa vontade, para
oferecer uma reflexão sobre diversos assuntos. Deve ser um pontífice que
esteja atento, para suscitar um debate na própria humanidade.
Já pensou em quem votar ou em um perfil genérico?
O
Papa é o bom pastor. As ovelhas o conhecem e ele conhece as suas
ovelhas. Por isso é importante que ele seja um grande pastor para todos e
também para falar aos homens de boa vontade. Considero alguns poucos
(cardeais) que se sobressaem, de todas as regiões. Tenho mais ou menos
cinco pessoas em mente. No passado tive muitos contatos com bispos, por
meu trabalho no Vaticano, então conheço vários cardeais. Mas não estou
decidido. Pensei em alguns candidatos que me chamam a atenção, algumas
pessoas com qualidade para poder assumir a missão.
A procedência geográfica terá algum peso?
Ninguém
vai apresentar um candidato, não acontece deste modo. A procedência
geográfica terá peso mínimo. Não se diz: agora precisamos de um Papa que
venha da África ou da Ásia ou de outra parte do mundo. Isso não
ocorrerá. Tampouco serão formados blocos por país, de cardeais que vão
votar em alguém em especial.
O que espera do Conclave?
No
primeiro escrutínio haverá uma dispersão muito grande de votos. Alguns
vão aparecer com mais sufrágios, mas isso não quer dizer que seja o
indicado. Na segunda votação veremos mais claramente quem pude emergir
com mais consenso. Até que se chegue aos dois terços dos votos, que
permitirá identificar o eleito. Durante o Conclave não teremos contato
com o exterior. Por isso se chama assim, Con-clave, quer dizer
Con-chave. Estaremos trancados aí dentro e não teremos contato
absolutamente nem com meios de comunicação, nem com telefone ou
internet, nada de nada. A Igreja é um mistério, a partir do ponto de
vista espiritual. Não é um reino deste mundo, está no mundo sem ser do
mundo. Jesus Cristo é a cabeça desse corpo que é a Igreja. De modo que
não se trata de uma disputa de lugares, mas de eleger quem vai servir.
Fonte: Ecclesia Una
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