terça-feira, 16 de abril de 2013

'Renovação das paróquias exige motivação dos leigos'


Em entrevista exclusiva ao jornal O SÃO PAULO, o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, revelou que está feliz com o tema central refletido pelos bispos reunidos na 51ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”. O Cardeal já havia proposto reflexão semelhante na Arquidiocese de São Paulo, ao escrever, em 2011, a Carta Pastoral “Paróquia, torna-te o que tu és!”.

Para dom Odilo, o modelo de paróquia proposto pela CNBB agora já estava presente no Concílio Vaticano 2º e foi retomado pela Conferência de Aparecida. Esse modelo pressupõe uma conversão pastoral que supere a ideia de paróquia como estrutura orgazicional e burocrática, e passe a entendê-la como comunidade viva de batizados. Leia a íntegra da entrevista:

O SÃO PAULO – Qual é a proposta concreta da CNBB com relação ao tema da assembleia deste ano, que usa a expressão “nova paróquia”?

Dom Odilo Pedro Scherer – A ideia que está por trás é a renovação da paróquia com base na ideia da renovação da comunidade. A paróquia, mais do que ser uma estrutura jurídica, uma estrutura geográfica ou apenas orgazicional e, eventualmente, até mesmo burocrática, é comunidade de pessoas. E não é só uma comunidade, mas uma grande comunidade feita de muitas pequenas comunidades, a começar pela própria família, das comunidades de base, dos movimentos, das associações, dos grupos e das organizações que expressam a vida eclesial de muitos modos.
Então, a paróquia que a CNBB quer estimular é aquela que já está, também, prevista no Concílio Vaticano 2º e que foi reproposta na Conferência de Aparecida, em 2007, e que é a paróquia que se organiza como comunidade de pessoas. Comunidade de comunidades. Muitas comunidades pequenas, menores, articuladas em torno da grande comunidade.

O SÃO PAULO – E o que é necessário para essa renovação?

Dom Odilo Scherer - As nossas paróquias precisam dar um passo adiante para se revitalizarem, valorizando as pessoas, valorizando o conjunto das agregações de pessoas que se formam para melhorar, cultivar a sua vida cristã dentro da própria paróquia.
É preciso, ainda, um dinamismo novo da parte dos párocos e de todos os conselhos paroquiais. De todas as pessoas que fazem referência à paróquia. Eu penso que se a paróquia realmente conseguir se organizar com muitos grupos e pequenas comunidades, ela certamente será muito mais dinâmica e muito mais expressiva como missão e testemunho.

O SÃO PAULO – Em 2011, com uma carta pastoral, o senhor já havia proposto uma reflexão sobre a renovação das paróquias. A proposta da CNBB vai naquela mesma linha?

Dom Odilo Scherer – Sim, é na mesma linha. Com o título da carta pastoral, “Paróquia, torna-te o que tu és!”, eu queria dizer exatamente que as paróquias devem se tornar comunidades vivas, de pessoas que assumem a sua vida cristã, de pessoas que tornam presente ali a vida da Igreja. Essa reflexão era muito necessária e eu fico muito feliz que a CNBB tenha escolhido isso como tema de reflexão para toda a Igreja no Brasil. Pois nós, muitas vezes, corremos o risco de dar muito peso a estruturas de organização e acabamos esquecendo que a Igreja é, basicamente, comunidade de pessoas. Pessoas que precisam, por sua vez, de estruturas de organização para melhor expressar sua vida cristã. Mas as estruturas não estão em primeiro lugar. Pelo contrário! As organizações estão a serviço da vida e da missão da Igreja, que é comunidade de batizados.

O SÃO PAULO – Os leigos têm um papel importante nessa renovação?

Dom Odilo Scherer – Evidentemente. A paróquia é basicamente formada de leigos. Isto é, de batizados. Se ali tem padre, e precisa ter, a paróquia sem o padre não é paróquia, o padre está em função do serviço daquela comunidade, daquele povo de batizados. Uma paróquia só consegue se renovar plenamente com o total envolvimento dos leigos. Para se renovar, a paróquia precisa envolver, valorizar e motivar os leigos. Estimulá- los a expressar, nas muitas formas de vida cristã, seus dons e carismas.
E, sobretudo, motivar o testemunho de cada pessoa. O testemunho de cada batizado é parte desta riqueza de vida paroquial. E, na medida em que tivermos muitos leigos vivendo bem o Evangelho na sua família, no seu trabalho, na escola, nós teremos uma paróquia rica e com muitos frutos de vida cristã, independentemente desses batizados também fazerem parte de organizações pastorais dentro da paróquia. A missão básica do leigo é poder expressar a vida cristã nas muitas formas da sua atuação e presença no meio do mundo.

Fonte: Jornal O SÃO PAULO

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