sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Discurso do Papa: Comissão Teológica Internacional - 7/12/2012



Discurso
Audiência com os membros da Comissão Teológica Internacional
Sala de Papas do Palácio Apostólico Vaticano
Sexta-feira, 7 de dezembro de 2012





Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Ilustres professores e caros Colaboradores,

Com grande alegria vos acolho ao término de seus trabalhos da vossa Sessão Plenária anual. Saúdo de coração o vosso novo presidente, Dom Gerhard Ludwig Müller, a quem agradeço pelas palavras que me dirigiu em nome de todos, assim como o novo secretário geral, o padre Serge-Thomas Bonino. 

A vossa sessão desenvolveu-se no contexto do Ano da Fé, e estou profundamente satisfeito pelo fato da Comissão Teológica Internacional ter desejado manifestar a sua adesão a este evento eclesial através de uma peregrinação à Basílica Papal de Santa Maria Maior, para confiar à Virgem Maria, praesidium fidei, os trabalhos da vossa Comissão e para rezar por todos aqueles que, no meio Eclesial, dedicam-se a fazer frutificar a inteligência da fé em benefício e alegria espiritual de todos os crentes. Obrigado por este gesto extraordinário. Exprimo apreço pela mensagem que os senhores escreveram em ocasião deste Ano da Fé. Isso ilustra bem o modo específico no qual os teólogos, servindo fielmente à verdade da fé, podem participar do esforço evangelizador da Igreja. 

Esta mensagem retoma os temas que os senhores desenvolveram mais amplamente no documento “A teologia hoje. Perspectivas, princípios e critérios”, publicado no início deste ano. Tomando nota da vitalidade e da variedade da teologia depois do Concílio Vaticano II, este documento pretende apresentar, por assim dizer, o código genético da teologia católica, isso é, princípios que definem a sua própria identidade e, por consequência, garantem a sua unidade na diversidade das suas realizações. Para este efeito, o texto esclarece os critérios para uma teologia autenticamente católica e, portanto, capaz de contribuir com a missão da Igreja, com o anúncio do Evangelho a todos os homens. Em um contexto cultural em que alguns são tentados ou a privar a teologia de um estatuto acadêmico, por causa de sua ligação intrínseca com a fé, ou de prescindir da dimensão crente e confessional da teologia, com o risco de confundi-la e de reduzi-la às ciências religiosas, o vosso documento recorda oportunamente que a teologia é inseparavelmente confessional e racional e que a sua presença dentro da instituição universitária garante, ou deveria garantir, uma visão ampla e integral da própria razão humana.

Entre os critérios da teologia católica, o documento menciona a atenção que os teólogos devem reservar ao sensus fidelium. É muito útil que a vossa comissão esteja concentrada também sobre este tema que é de particular importância para a reflexão sobre a fé e para a vida da Igreja. O Concílio Vaticano II, enfatizando o papel específico e insubstituível que cabe ao Magistério, salientou, no entanto, que todo o Povo de Deus participa na função profética de Cristo, realizando assim o desejo inspirado, expresso por Moisés: “Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito!” (Nm 11,29). A Constituição dogmática Lumen gentium ensina sobre: “A totalidade dos fiéis, tendo a unção que vem do Santo (cfr 1 Jo 2,20.27), não pode enganar-se no crer, e manifesta esta sua propriedade mediante o sentido sobrenatural da fé de todo o povo, quando desde os bispos até os últimos fiéis leigos mostra universal seu consenso em matéria de fé e de moral” (n. 12). Este dom, o sensus fidei, constitui no crente uma espécie de instinto sobrenatural, que tem uma conaturalidade vital com o mesmo objeto da fé. Observamos que propriamente os simples fiéis carregam em si esta certeza, esta segurança do sentido da fé. O sensus fidei é um critério para discernir se uma verdade pertence ou não ao depósito vivo da tradição apostólica. Tem também um valor propositivo porque o Espírito Santo não para de falar à Igreja e de conduzi-la para a verdade inteira. Hoje, no entanto, é particularmente importante especificar os critérios que permitem distinguir o sensus fidelium autêntico das suas imitações. Na realidade, isso não é uma espécie de opinião pública eclesial, e é impensável podê-lo mencionar para desafiar os ensinamentos do Magistério, porque o sensus fidei não pode desenvolver-se autenticamente no crente se não na medida em que ele participa plenamente na vida da Igreja, e isso exige adesão responsável ao seu magistério, ao depósito da fé. 

Hoje, este mesmo sentido sobrenatural da fé dos crentes leva a reagir com vigor também contra o preconceito segundo o qual as religiões, e em particular as religiões monoteístas, seriam intrinsecamente portadores de violência, sobretudo por causa do argumento de que elas têm a pretensão da existência de uma verdade universal. Alguns acreditam que apenas o “politeísmo de valores” garantiria a tolerância e a paz civil seria conforme o espírito de uma sociedade democrática pluralista. Nesta direção, o vosso estudo sobre o tema “Deus Trino, unidade dos homens. Cristianismo e monoteísmo” é de viva atualidade. Por um lado, é essencial lembrar que a fé no Deus único, Criador do céu e da terra, atende às exigências racionais da reflexão metafísica, a qual não é enfraquecida, mas reforçada e aprofundada na Revelação do Mistério de Deus-Trino. Por outro lado, é necessário salientar a forma que a Revelação definitiva do mistério do único Deus toma na vida e morte de Jesus Cristo, que vai ao encontro da Cruz como “cordeiro conduzido ao matadouro” (Is 53,7). O Senhor dá testemunho a uma rejeição radical de cada forma de ódio e violência em favor do primado absoluto da ágape. Se, portanto, na história, houve ou há formas de violência feita em nome de Deus, estas não são atribuídas ao monoteísmo, mas às causas históricas, principalmente aos erros dos homens. Pelo contrário, é o próprio esquecimento de Deus que imerge as sociedades humanas em uma forma de relativismo, que gera inevitavelmente a violência. Quando se nega a possibilidade para todos de referir-se a uma verdade objetiva, o diálogo transforma-se impossível e a violência, declarada ou oculta, torna-se a regra dos relacionamentos humanos. Sem a abertura ao transcendente, que permite encontrar as respostas às perguntas sobre o sentido da vida e sobre a maneira de viver de modo moral, sem esta abertura o homem torna-se incapaz de agir segundo a justiça e de empenhar-se pela paz. 

Se o fracasso do relacionamento dos homens com Deus traz em si um desequilíbrio profundo nas relações entre os próprios homens, a reconciliação com Deus, feita pela Cruz de Cristo, “nossa paz” (Ef 2,14), é a fonte fundamental da unidade e da fraternidade. Nesta perspectiva, coloca-se também a vossa reflexão sobre o terceiro tema, aquele da doutrina social da Igreja no contexto da doutrina da fé. Essa confirma que a doutrina social não é uma adição extrínseca, mas, sem esquecer a contribuição de uma filosofia social, recebe os seus princípios básicos nas próprias fontes da fé. Tal doutrina procura tornar efetivo, na grande diversidade das situações sociais, o mandamento novo que o Senhor Jesus nos deixou: “Como eu vos amei, assim amais também vós uns aos outros” (Jo 13, 34). 

Rezemos à Virgem Imaculada, modelo de quem escuta e medita a Palavra de Deus, que vós recebais a graça de servir sempre alegremente a inteligência da fé em favor de toda a Igreja. Renovando a expressão da minha profunda gratidão pelo vosso serviço eclesial, asseguro-vos a minha constante proximidade na oração e concedo de coração a todos vós a Benção Apostólica.




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