Não se pode dizer com certeza onde alguém
que acaba de morrer foi passar a eternidade. É certo que, imediatamente
após a sua morte, vem o julgamento particular, e ali é decidido o
destino da pessoa: se a glória no Céu, ou a infâmia, no inferno. Mas da
sentença, dada em um plano que ainda não nos é acessível, só Deus e o
julgado têm plena consciência.
Por isso, é um erro afirmar categoricamente que o arquiteto Oscar Niemeyer, que faleceu no último dia 5,
foi para o inferno. É possível dizer que, por sua obstinação ateísta e
sua militância no comunismo, o seu destino bastante provável seria este,
a perdição eterna. Mas a certeza absoluta deste fato só Deus possui.
Além disto, embora raros, arrependimentos e conversões em leito de morte
acontecem. Resta confiar a alma de Niemeyer à justiça e à misericórdia
de Deus, como recomenda o Catecismo:
“O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.”
(Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1861)

“Stalin era fantástico. A Alemanha acabou por fazer dele uma imagem de que era um monstro, um bandido. Ele não mandou matar os militares soviéticos na guerra. Eles foram julgados, tinham lutado pelos alemães. Era preciso. Estava defendendo a revolução, que é mais importante. Os homens passam, a revolução está aí.”
A opinião do “imenso humanista” lembra a do historiador britânico recém-falecido, Eric Hobsbawm (ao qual o próprio Niemeyer gostava de fazer referência):
“Em 1994, Michael Ignatieff – então jornalista político, mas depois presidente do Partido Liberal do Canadá – entrevistou Hobsbawm para a BBC. Segundo o historiador, o Grande Terror de Stalin teria valido a pena caso tivesse resultado na revolução mundial. Ignatieff replicou essa afirmação com a seguinte pergunta: ‘Então a morte de 15, 20 milhões de pessoas estaria justificada caso fizesse nascer o amanhã radiante?’ Hobsbawm respondeu com uma só palavra: ‘Sim’.”
Tanto para Hobsbawm quanto para Niemeyer,
“a revolução (…) é mais importante”. Que a própria humanidade
inclusive! Porque, em nome daquela, esta foi terrivelmente sacrificada, e
não se ouviu da boca destes dois pensadores uma palavra de protesto
sequer. Resta perguntar, com Reinaldo Azevedo, que humanismo
é este, que descaracteriza a dignidade da vida humana e age com
indiferença – ou mesmo com elogios – diante das imensas crueldades
perpetradas pelos líderes comunistas para implantar suas fantasias
tirânicas e virulentas. Definitivamente, não dá pra exaltar o adepto de uma ideologia dessas.
Quanto à obra arquitetônica de Niemeyer,
limito-me a reproduzir os comentários de Dom Antônio Rossi Keller, bispo
de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, em seu blog “Encontro com o bispo”:
“A meu ver, a intenção do marxista Niemeyer era clara: a ressignificação do sagrado… golpe do marxismo soviético, com seus imensos prédios cheios de… vazio. Expressão de uma alma sem fé: vazio, espaços vazios. Na verdade, a meu ver, era como que um grito de uma alma que teve na infância marcas católicas, mas que, infelizmente perdeu-se em uma ideologia falida. A arquitetura sagrada cristã tem alma, tem quem a habite: é casa de Deus e casa do homem. É lugar de encontro: vê-se, toca-se, sente-se o odor do eterno. Tem Presença, é habitada. Tudo aponta para a eternidade, de certa forma, já presente. A torre é como um dedo apontado para cima, para lembrar o homem que há um Deus e um céu. A abóbada é representativa do céu definitivo. O Átrio representa as portas da eternidade, acolhedoras, abertas. A nave mostra a necessidade do caminho, do estar no mundo, etc. Niemeyer nunca poderia expressar isto em sua arquitetura, não porque não fosse capaz. Mas porque não tinha o dom da fé. Portanto sua arquitetura, a meu ver é cheia de… vazio: bonita, elegante, até digna. Mas, infelizmente, vazia.”
É isto o que produziu Niemeyer: uma
arquitetura sacra “vazia”, porque produzida sem “o dom da fé” e
contaminada por “uma ideologia falida”.
Igitur ex fructibus eorum cognoscetis eos
– “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7, 20), diz Jesus. Os frutos,
aqui, não são dos melhores… Que Deus tenha misericórdia de sua alma. Requiescat in pace.
Fonte: Eclesia Una
Fonte: Eclesia Una
Interessante..
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