Cardeal Stanislaw Rylko: "não extinguir os carismas, mesmo se inconvenientes"
Segue abaixo a intervenção
do cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos,
feita na tarde de ontem durante a segunda Congregação Geral do Sínodo dos
Bispos.
***
No número 115 do instrumentum laboris, lemos que "o florescimento,
ao longo das últimas décadas, muitas vezes gratuito e carismático, de grupos e
movimentos engajados com prioridade na proclamação do Evangelho é outro dom da
Providência para a Igreja".
O magistério dos últimos papas reiterou em muitas circunstâncias esta
natureza providencial da "nova era de integração dos fiéis leigos", destacando a
sua estreita relação com o "novo Pentecostes" do concílio Vaticano II.
Em particular, o beato João Paulo II fez sempre questão de destacar o
dinamismo missionário dos movimentos e das novas comunidades, que "representam
um verdadeiro dom de Deus para a nova evangelização e para a atividade
missionária propriamente dita. Por isso, recomendamos difundi-los e usá-los para
dar novo vigor, especialmente entre os jovens, para a vida cristã e para a
evangelização, dentro de uma visão pluralista dos modos de se associar e de se
expressar".
O papa Bento XVI, por sua vez, ressalta que "o instrumento providencial para
um renovado impulso missionário são os movimentos eclesiais e as novas
comunidades; acolham-nas e promovam-nas dentro das suas dioceses". Em outra
ocasião, ele encorajou os bispos a receber os movimentos e novas comunidades
"com grande amor".
Infelizmente, os movimentos e as novas comunidades ainda são um recurso que
não é totalmente valorizado na Igreja, um dom do Espírito e um tesouro de graças
que ainda estão escondidas aos olhos de muitos pastores, talvez intimidados pela
novidade que eles trazem para a vida da diocese e das paróquias.
O Santo Padre está bem ciente desta dificuldade; é por isto que ele exorta os
pastores a "não extinguirem os carismas, a serem gratos a eles, mesmo que eles
sejam incômodos". É necessária, portanto, uma "conversão pastoral" dos bispos e
dos padres, que são chamados a reconhecer que os movimentos são essencialmente
um dom precioso e não um problema.
O zelo missionário das novas realidades não vem de um entusiasmo emocional e
superficial, mas resulta de experiências muito sérias e exigentes de formação
dos fiéis leigos na fé madura, capaz de responder adequadamente aos desafios da
secularização. A novidade da sua ação, portanto, não está nos seus métodos, mas
na capacidade de reafirmar a centralidade de Deus na vida dos cristãos, uma
questão fundamental nos ensinamentos do Santo Padre Bento XVI.
Mesmo para a nova evangelização, vale o velho ditado escolástico:
"operari sequitur esse", porque as nossas ações sempre expressam o que
somos. A evangelização não é só uma questão de know-how, mas é,
principalmente, uma questão de "ser", isto é, de ser cristãos verdadeiros e
autênticos.
Os métodos de evangelização que os movimentos e as novas comunidades adotam
são aparentemente muito diferentes, muito variados, mas todos se relacionam com
as "três leis da nova evangelização", que o então cardeal Ratzinger formulou
para catequistas e professores de religião por ocasião do Jubileu do ano
2000.
Primeiro, a "lei da expropriação", ou seja, o não falar em nome próprio, mas
em nome da Igreja, mantendo claro que "a evangelização não é apenas um modo de
falar, mas um modo de viver": é a clara consciência de que pertencemos a Cristo
e ao Seu Corpo, a Igreja, que transcende o eu.
A segunda é a "lei da semente de mostarda", que é a coragem de evangelizar
com paciência e com perseverança, sem esperar resultados imediatos, e sempre
lembrando que a lei dos grandes números não é a lei do Evangelho. É uma atitude
que podemos reconhecer, por exemplo, no trabalho de evangelização realizado por
movimentos e novas comunidades nas regiões mais secularizadas da terra.
A terceira "lei" é a do grão de trigo, que deve morrer para dar a vida, que
deve aceitar a lógica da cruz. Nessas leis, reside o maior segredo da eficácia
dos esforços de evangelização da Igreja em todos os tempos.
Fonte: Zenit
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