
No domingo, 7 de outubro, o Papa Bento XVI vai
abrir a 13ª. Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma. Até dia
28 de outubro, cerca de 170 bispos do mundo inteiro, representando as
conferências episcopais, além de outros, especialmente convocados pelo Papa,
estarão refletindo sobre o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé
cristã”.
Também participarão, como convidados,
representantes do clero, das organizações dos leigos, da Vida Consagrada
Religiosa e de várias instituições da Igreja, além de peritos sobre os temas
tratados.
No final de três semanas de muito ouvir, de
intensa união de esforços em vista de um caminho comum da Igreja (“sínodo”
significa isso!), espera-se que a assembleia sinodal possa apontar caminhos
para uma renovação da evangelização e da transmissão da fé.
De fato, duas são as questões postas pelo tema:
a evangelização e a transmissão da fé cristã. Ambas são dependentes e
relacionadas entre si.
A Igreja tem consciência de que sua missão é
evangelizar, ou seja, proclamar e testemunhar ao mundo o Evangelho do Reino de Deus.
E isso, com o objetivo de despertar nas pessoas a atenção e o interesse pelo
Evangelho e de ajudá-las a chegar ao ato de fé. Essa é a razão de ser da
evangelização: ajudar a chegar à fé cristã, transmitir esta fé aos outros, com
a ajuda da graça de Deus.
Nem sempre esse objetivo é alcançado. O
semeador tem a consciência de que sua missão é lançar as sementes à terra; ele
faltará para com sua tarefa se deixar de o fazer; ele sabe de antemão que muita
semente preciosa cairá em terreno duro, entre espinhos, ou sobre as pedras; nem
por isso ele não deixa de semear. E também vai animado pela esperança que muita
semente cairá em terreno bom e acabará produzindo o fruto esperado...
Por qual motivo esse tema foi escolhido para a
13ª Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos? As explicações podem ser
diversas; mas é certo que há uma séria crise na evangelização e na transmissão
da fé em nossos dias, em várias partes do mundo. Há falhas na evangelização,
por ser insuficiente, inadequada, ou desfocada; e quando a proclamação da Boa
Nova não é feita bem, os frutos não aparecem.
Talvez os evangelizadores não estejam sendo
bastante convincentes, por várias razões; ou os ouvintes não estão interessados
e não conseguimos interessá-los; talvez o momento cultural (“mudança de
época”...) não está sendo propício para o anúncio sério e frutuoso do
Evangelho... Nada disso, porém, pode justificar a cessação do processo
evangelizador. É preciso continuar a buscar uma saída, a contar com a graça de
Deus, mais poderosa que nossos discursos e métodos. A evangelização não pode
parar, pois seria a falência da missão que a Igreja recebeu de Cristo.
Além disso, a transmissão da fé está sendo
fraca, ou está até mesmo sendo interrompida em muitas situações e lugares. É
bem sabida a dificuldade que os pais, mesmo fervorosos, têm para transmitir a
fé aos filhos; e quando as novas gerações não abraçam mais a fé, deixam de
receber o sacramento do Matrimônio e de formar uma família cristã, constituída
sobre as bases da fé e da vivência cristã, quando deixam de pedir o Batismo
para os filhos e de os apresentar para a Catequese de iniciação à fé e à vida
cristã, estamos diante do fato lamentável da interrupção do processo da
transmissão da fé, de geração em geração; e os casos não são raros!
Estamos diante de um “novo paganismo”, que
nasce e se desenvolve, muitas vezes, dentro dos próprios ambientes católicos.
Esta questão é muito grave e desafiadora para a missão da Igreja! Os motivos
por que isso acontece são muitos e não devem ser atribuídos apressadamente à
culpa de quem quer que seja. Não se trata de achar culpados, mas de agir
adequadamente. A análise das causas ajuda a entender o fenômeno, que se passa
debaixo de nossos olhos; mas a simples compreensão do fenômeno, por muito que
seja importante, ainda não é a solução.
Não há mistérios nem fórmulas mágicas. Passou o
tempo em que a fé era transmitida espontaneamente e vivida no ritmo da tradição
e da pressão social. A questão toda é evangelizar de novo e fazê-lo bem. Ou a
Igreja retoma com vigor a evangelização, feita de muitas maneiras; ou então, a
fé deixa de ser transmitida. É como fechar um registro: a água não passa mais...
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
@DomOdiloScherer
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